À minha volta, só ouço ecos. Cada
passo, cada arrastar de malas, um copo do armário que sai do armário para se encher
de água da torneira. A casa vazia multiplica cada gesto, a dizer que numa nova
vida tudo conta, tudo se ouve.
Espalhados pelo chão, estão
muitos sacos à espera de um lugar que lhes pertença. Uma vida à espera de ser
desempacotada.
Se me perguntassem há cinco anos
o que é que eu queria ser “um dia”, a resposta estaria na ponta da língua. Queria
ser jornalista a tempo inteiro, poder contar histórias todos os dias, ser
livre, independente. Queria ter o meu espaço, o meu lugar no mundo.
De repente, tudo se tornou
verdade, sem tempo para me dar conta que esse “dia” chegou, está aqui para ser
vivido plenamente. Foi tudo muito rápido. Imaginava as coisas em câmara lenta,
rumo a um futuro sonhado, ideal, em que me levantava da cama num salto, fazia
café, tomava banho e fechava a porta da rua com um sorriso, a pensar que tudo
estava no lugar certo.
Na divisão ao lado, a que decidi
chamar “sala”, estão caixas cheias de madeira, que amanhã hão-de se transformar
em móveis, se o engenho nos ajudar. Falo no plural porque há coisas que são
impossíveis de realizar no singular. Montar móveis é uma delas, construir uma
vida é outra. Eles vão estar cá para ajudar a que tudo isso aconteça.
Às vezes sinto que a Inês de há
cinco anos quer ralhar com esta de agora, por não estar a viver tudo mais
intensamente, como nos filmes, com música de fundo. Por não estar sempre a
dançar no pensamento e no coração.
É um final feliz? É demasiado
cedo para finais. Há coisas que não podem simplesmente ser dadas como
alcançadas. O que virá a seguir? Quem quero ser daqui a cinco anos? O mesmo que
agora? O mesmo café, o mesmo banho, a mesma porta a fechar?
Quando os sonhos se realizam, o
que vem depois? É só desfrutar? Sentar e aproveitar?
Saio à minha mãe. Detesto
rotinas, todos os dias têm que ser diferentes. Vario no pequeno-almoço, não
compro duas caixas iguais de cereais. Se puder, vario nos transportes para o
trabalho e no supermercado onde vou. Assusta-me a vida que se repete e não
muda.
“É isto que queres?”
A pergunta assalta-me vezes sem
conta, no banco do metro, no meio de duas colheres de sopa ou durante o banho.
Tento não lhe dar muita importância, afinal sou uma sortuda, e os sortudos não
se podem queixar.
Se calhar é só desfrutar.