Mesmo Muito Nice

Elas são loiras. Usam chinelos com diamantes incrustados e ocultam a cabeça com um chique chapéu de palha. Põem aglomerados de creme na cara, que lhes dá um amoroso ar de cadáver em pleno velório. Vêm sempre acompanhadas do seu José ou do seu Arménio, cuja indumentária é frequentemente à base de calção bege e pólo desbotado. Volta e meia andam com o netinho atrás. Este, normalmente, chama-se Rodriguinho, Afonsinho ou Gonçalinho e é tratado por “o menino”. Já em situações de uma maior falta de nível, pode ser ainda tratado por “você”. Sim, é isso mesmo. Crianças tratadas pelos parentes próximos quais administradores juniores de uma empresa de nível.

Vão para a piscina de brincos nas orelhas, cabelo puxado para cima até ao mais ínfimo pormenor e, por vezes até, de óculos de sol. Têm uma aversão profunda a que entre a mais pequena gota de água no arranjado cabelo doirado e fazem cara enfadonha quando, muito inocentemente, lhes ajudamos a refrescar a mona com os salpicos dos nossos dinâmicos e espalhafatosos saltos para a água.

A sua pele já foi mais esticada que os lençóis do Holiday Inn. Passam apenas pela piscina nas horas de menor calor (a primeira coisa suficientemente inteligente que podemos encontrar nelas) e arruínam o saldo do telemóvel em telefonemas para a Pipinha, a Chichinha e Pápinha, assegurando-se sempre que todo o recinto toma conhecimento da conversa que estão a travar.

Moram em Cascais e são atraídas como ímanes para festas que não têm nada a ver com a sua vida e divertem-se a fazer de biblots, por vezes com o José e o Arménio por damas de companhia.

Vivem de mexericos insignificantes sobre a vida dos outros e, quando se trata da sua própria vida, salta-lhes a tampa.

São as tias do nosso país. Não são inteligentes, não são bonitas, não são simpáticas. Mas têm a certeza absoluta de que são tudo isso e mais alguma coisa.

São tias. São tias e basta !