«Sim, coincidíamos nessa visão do mundo que o desdém dos cínicos considera optimista. Por cada acto de horror encontrávamos uma quantidade infinita de actos de amor. A nossa comum paixão pela História conduzia-nos à generosidade humana: na sombra de cada ditador, encontrávamos uma multidão de democratas; nas pregas de cada massacre, milhares de vidas dedicadas à felicidade alheia. Os semeadores de horror sempre foram uma minoria - uma minoria eficiente, sim, mas que engorda na proporção exacta em que se acredita no seu poder. E nós dois recusávamo-nos a acreditar. Fazíamos dessa recusa quotidiana uma guerra contra a multiplicação publicitária do terror. Tu vias Cristo em cada pessoa, eu via apenas a pessoa de cada pessoa. O que era exactamente a mesma coisa, se descontarmos as tuas rezas, e a minha convicção de que, às vezes, o sangue só se mata com sangue.»
Fazes-me Falta, Inês Pedrosa
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