Ai, que areia mais chatinha!

No outro dia, contavam-me os meus pais uma história que me fez dar umas gargalhadas cá dentro…

Pelos vistos, quando era pequenina, e eles me levavam à praia na altura do Verão, eu não gostava muito da brincadeira. Não gostava de praia, pronto! É que lá havia uma coisa que tinha o dom de me enervar, e de me pôr a fazer uma birra do tamanho do mundo.

Uma coisa chamada areia. Não gostava da areia, e não porque ela se me colasse à pele ou porque entrasse para a roupa… não gostava da areia porque, estranhamente, quando a tentava agarrar na minha mãozinha, ela tinha a mania de se escapar por entre os dedos!

Que raio, porque é que ela não podia ficar quietinha dentro da mão? Era bonita, e queria brincar com ela! Mas não. Ela não devia gostar de mim, e fazia questão de não se segurar mais que 2 segundos dentro da minha mão pequenina.

Ficava chateada, fazia birra, ficava com a telha. Ela também não colaborava um bocadinho, o raio da areia!

Esta história antiga fez-me lembrar uma muito mais actual, que me acontece muito frequentemente, e a vocês também, calculo.

Sabem quando estão tão felizes que só querem que um determinado momento dure para sempre? Porque é que acaba? Porque é que as horas passam? Porque é que tudo volta outra vez ao mesmo quando ali, naquele sítio e naquele momento, é que estávamos bem?

E quando gostam tanto de alguma pessoa que a querem só para vocês? Porque é que ela tem que sair da vossa beira? Porque é que o tempo se encarrega de vos separar? Porque é que não conseguem simplesmente apagar o Mundo e torná-la só vossa, para que ele não a possa arrancar das vossas vidas?

E quando uma fase da vossa vida está a correr mesmo bem? Acordam felizes, e parece que tudo o que vos acontece vos faz sorrir! Parece que tudo corre bem, e mesmo o que não corre não é tão difícil de ultrapassar e esquecer! Porque é que, mais cedo ou mais tarde, a fase acaba? Porque é que tudo tem que voltar à monotonia, até que nos lembremos que temos que mudar porque assim não estamos bem?

E Deus? Porque é que às vezes a nossa vida parece que gira à volta Dele, parece que o vivemos como nunca, e depois nos voltamos a esquecer que com Ele conseguimos chegar ao melhor de nós mesmos? Porque é que também não O conseguimos agarrar na nossa mão para que nunca mais saia, para que não precisemos de andar à Sua procura nos caminhos da vida?

Pois é… é que as coisas importantes nunca se deixam agarrar! Só são importantes se andarem aí, livres. Se as prendermos em nós, deixamos de as possuir, ou antes, deixam de ser importantes!

Isso é tão fácil de notar… vejamos: o casal que acha que se tem como garantido, deixa de se encantar em cada dia, e por isso deixa de se amar, deixa de ser importante; a pessoa que dá Deus por garantido acaba por se agarrar a religiosidades vazias que não têm nem um bocadinho da Sua marca – deixa de ser Deus, e por isso deixa de ser importante; um lugar de sonho só é um lugar de sonho enquanto não passar a ser o lugar de todos os dias, o lugar das rotinas, o lugar que nunca havemos de deixar. Só quando estamos de partida é que volta a ser de sonho, porque percebemos que nos faz falta. Percebemos que afinal era importante.

É isso mesmo! Só percebemos a importância das coisas – ou das pessoas – quando elas nos fazem falta! Quando as perdemos, percebemos como eram importantes e como não as devíamos ter tomado como certas! Como não as devíamos ter prendido na nossa mão.

E no outro dia percebi como isto é humano… tão humano que até na minha inocência de criança isto me aborrecia! Aborrecia-me deixar a areia livre, no lugar dela, como me aborrece não conseguir prender tudo o que é importante.

Mas tenho sorte… tenho sorte em saber disto, porque assim as coisas importantes continuam importantes, e não as estrago com a vontade de possuir tudo e todos. Amo-as, às coisas importantes, e às pessoas importantes. E porque as amo, não as possuo. Ou assim espero.