Um dia um amigo ofereceu-me uma caneta de tinta permanente.
Ainda hoje me rio com a atrapalhação dele a explicar o porquê daquele presente: “Não escrevemos qualquer coisa a tinta permanente… a tinta permanente permanece, é especial! Olha, não sei explicar”.
Foi mais ou menos isto que saiu da sua boca naquele momento, e acho que ficou com a sensação de que eu não tinha percebido nada… mas percebi bem. Bem, numa primeira fase não, mas depois... depois aquela caneta disse-me muito!
Hoje peguei outra vez nela, e lembrei-me de partilhar com vocês o que aquele presente significou cá dentro.
Uma caneta de tinta permanente. A primeira coisa que pensei foi: “este gajo está maluco, eu não sei escrever com esta coisa…”.
A minha experiência com tintas permanentes nunca tinha sido grande coisa. As únicas canetas parecidas com esta que tinha cá em casa eram sempre um desatino. Costumava dar com elas quando andava numa correria à procura de uma caneta qualquer para escrever uma coisa rápida! Vocês sabem que quando queremos uma caneta NORMAL aparecem-nos sempre canetas partidas, canetas que não escrevem, canetas de cores florescentes ou canetas que largam mais tinta que o pincel de um pintor de garagens…
Exactamente. As de tinta permanente nunca me agradaram porque era preciso meia hora para escrever duas ou três palavras com elas! E por isso nunca perdi muito tempo a tentar escrever mais do que uma frase com elas…
Quando cheguei a casa naquela tarde em que o meu amigo me tinha dado a caneta, peguei nela e pus-me a decifrar o significado dela. E cheguei a umas conclusões que depois me entretive a escrever-lhe. Com a preciosidade, é claro!
Vejamos então.
Uma caneta permanente não é toda igual, pois não? A ponta é um tanto estranha, se a olharmos de um lado é de uma maneira, se a olharmos do outro já é de uma maneira diferente. De tal forma que se escrevermos com a ponta inclinada para um lado dá-nos um traçado mais fino; se a virarmos, temos um traçado mais grosso!
Tudo depende da maneira como colocamos a mão. O traçado sai assim que o quisermos assim, o traçado sai assado se o quisermos assado. Mas temos que nos dedicar em cada letra, em cada palavra, ou então das duas uma: ou não sai tinta absolutamente nenhuma ou saem litros de uma vez só.
Por isso, não se escreve qualquer coisa a tinta permanente. É preciso tempo, é preciso dedicação em cada palavra.
Não gosto nada de pôr corrector por cima do que escrevo com aquela caneta. Parece mais genuíno assim… uma tinta que permanece, que não tapamos com correctores improvisados para os erros não se verem! Uma tinta já meia borratada por si mesma, por ser tão difícil escrever com ela e deixar a folha imaculada. Uma tinta meia humana meia tinta.
Quando acabei de escrever a carta, olhei para ela. As linhas estavam meias grossas meias finas, prova da minha falta de jeito para a coisa. Não era toda igual, umas linhas saíram assim, outras assado.
Mas acabei e sorri. Porque na vida e no papel, nada é constante. Uns traços de uma maneira, outros de uma maneira diferente. Uns borratões pelo meio, um texto meio irregular. Mas sempre um texto, e sempre bom de ler…
A partir daí comecei a pegar na caneta mais vezes. Ainda escrevi umas coisas com ela… só as que não exigiam grandes pressas. Um dia, ela estava a falhar, não havia maneira de se imprimir no papel! Meia aborrecida, fiz como faço com as outras todas… sacudi-a, a ver se a tinta saía!
E saiu. Umas grossas gotas de tinta espalharam-se pelo papel, pela secretária, pela parede branca. E lá estão, meias marcadas abaixo da janela.
“Burra, Inês, burra! Era óbvio que isto ia acontecer, és tão burra! Burra e impaciente!”
Foi, foi a falta de paciência… na vida e nas canetas especiais, a impaciência suja sempre! Lembro-me disso muitas vezes, quando olho para aquelas manchas azuladas que já me ensinaram umas coisas…
3 comentários:
Ahah...oh maria do que tu te lembras! Possa pah. vou obrigar-te a encerrar o blog..ou então paras de "falar"!! Qual das duas preferes? É que em qualquer umas delas tás calada :P
Fogo...tu trazes-me sempre as recordações ao de cima...isto não pode ser!! Sabes? Vou-te contar uma pequena história...pode ser?
Era uma vez um rapazinho muito muito pequenino e novinho que saiu do país e foi para fora. Foi para a Bélgica meio perdido e foi para uma escola. Uma escola que em como todas as outras se aprende! Pois bem..até aí tudo era completamente normal. Tudo igual ao das outras escolas, até à hora em que deram a lista do material necessário para o ano escolar. O rapazinho lá leu a lista e ficou admirado com um dos objectos!! "Uma caneta de tinta permanente? Aaaaah...mas..isso não são aquelas canetas com um bico muito estranho que parece um bico de um pato? São não são?" (pensou em voz baixinha para ele). Chegou a casa e deu a lista à mãe todo contente, continuando intrigado o porquê da caneta e perguntou à mãe. "Oh mãe, porque é que se usa a caneta de tinta permanente?" e a mãe respondeu "então filho..é para que tudo o que escrevas fique bem registadinho e nunca mais desapareça. A tinta da caneta permanente não sai e fica para sempre registada!"
No dia seguinte o rapazinho lá foi às compras com a mãe. Comprou cadernos, lápis, borrachas e a caneta de tinta permanente juntamente com uns cartuchos de tinta. Uma caneta de marca. Toda revestida em madeira com a ponta metálica num tom dourado. Era uma Pelikano.
Passados uns dias vai para a escola e a professora faz a chamada juntamente com a pergunta "menino João Paulo...tem caneta de tinta permanente?", "não senhora professora. Não tenho. Estavam esgotadas" - respondeu o menino João Paulo. "Ai não tem? Então vai levar falta e um recado para os pais. E para a próxima se não tiver a caneta não entra na sala ouviu?" - disse a professora.
O rapazinho ficou admirado com aquilo e só pensava para ele "ufaa..ainda bem que já tenho a caneta..". Entratanto, após a chamada e todos os recados dados a professora começa por ver a nossa habilidade de escrever. Como era a letra e se sabiamos escrever com a caneta de tinta permanente. Percorreu todas as mesas e até que chegou à mesa do rapazinho. Estava tudo impecável. Letra desajeitada como seria de esperar (embora nunca tenha evoluído) e com uma escrita perfeita a tinta permanente sem nenhuma falha. A professora pergunta "João (rapazinho) diz-me uma coisa, já alguma vez tinhas escrito com uma caneta de tinta permanente?", "não prpfessora. Nunca tinha pegado nesta caneta estranha. Mas porquê senhora professora? Está alguma coisa mal é?" - disse o rapazinho. "não não. Está tudo muito bem :) continua.".
Passado umas horas a caneta do rapazinho deixa de escrever e chama a professora para ir à mesa. Experimenta todos os lados da caneta. Aperta o bico da caneta contra a folha de papel para ver se a tinta sai. Nada. Entretanto a professora chega e..."oh professora a caneta não escreve!" e agita a ponta com toda a força em direcção ao chão. Saiem umas gotículas gigantes disparadas para o chão mas saiem mal direccionadas. Acertam em cheio nos sapatos da professora. Que por sua vez eram novos e que pior ainda eram brancos. A professora ficou chateada e digamos que ela não tinha um feitio lá muito simpático. Pegou no rapazinho pela orelha e começou a gritar com ele para a próxima ter mais cuidado.
Após todo este raspanete e de todos os outros rapazinhos ficarem a olhar para o rapazinho, o rapazinho lá não conteve as lágrimas e lançou tudo cá para fora. Borratou tudo o que tinha escrito e não se importou com isso. Passado uns minutos tudo voltou ao normal. Teve as restantes aulas até ao final do dia e foi apanhar a camioneta que a escola cedia para levar os todos os alunos à zona onde viviam. Isto é..cada rapazinho vivia em partes diferentes da cidade e a escola garantia transporte para a determinada zona. O rapazinho chega a casa e fala com a mãe a dizer que não gosta da escola nem da professora "ela é má mamã!".
No dia seguinte o rapazinho foi outra vez para a escola e tudo correu melhor. Sem puxões de orelhas...
E pronto..tudo isto para contar uma história sobre a caneta de tinta permanente, que por acaso é baseada em factos verídicos.
Personagens da história:
- Rapazinho - Eu, joão cunha
- Professora - Silvina (era má. Muito má. Ainda hoje não gosto dela)
- Rapazinhos - Turma
- João Paulo - foi o meu melhor amigo de lá, que ainda hoje nos mantemos em contacto
E pronto...espero que tenhas/tenham gostado desta pequena e trágica histórica da minha vida. Mas contínuo a gostar imenso de escrever com caneta de tinta permanente.
Ah..é verdade..há umas canetas em que tem dois bicos. Em que um dos bicos tem uma solução em álcool que serve para apagar quando nos enganamos a escrever. Assim não estragas o bico e no outro lado tem um bico que server para escrever mesmo sobre o álcool.
E pronto agora é que é mesmo tudo. Desculpa mas não vou voltar a ler. Para além de ser muito grande, não quero voltar a encher-me de lágrimas..e por isso não vou voltar a ver se tem erros.
beijinho
Só mais uma coisinha...VIVA A CANETA DE TINTA PERMANENTE!!!
Q perfeito, Inês. *
Ehh lá!
Ó João, que grande testemunho...
Eu só te digo uma coisa, eu adorava ter sido tua colega na escola. Acho que me divertia à grande todos os dias, às histórias que já me contaste xD
VIVA A CANETA DE TINTA PERMANENTE!
Um beijinho em si :D
Postar um comentário