
Isso mesmo. É disso que hoje quero falar.
Há algo nas bibliotecas que me fascina. O facto de eu entrar lá habitualmente significa “tarde de estudo”, mas ainda assim não sei não gostar daquilo.
Antes de mais, é onde descansam cententas de livros, e os livros têm para mim uma magia especial que nunca hei-de saber explicar bem. Acho que é o seu cheiro. Adoro o cheiro a livro. E o verdadeiro livro é o que tem as marcas de muitas mãos e muitos olhos. É o que está vincado pela idade, pelas correrias de mão em mão. É por isso que gosto particularmente dos livros das bibliotecas. Não são imaculados. São humanos.
E depois é o ambiente da biblioteca. Fala-se em segredo, como se as estantes impusessem respeito. Como se fosse um lugar sagrado, e uma palavra mais alta estragasse alguma coisa.
Grupos de amigos sentam-se ao redor duma mesa num estudo entrecortado com brincadeiras, que em vez de distrair ajudam a perceber a matéria. Ajudam-se entre si. “Sabes esta?”. “Sim, é assim.”. “Estou com sono. Vou ali buscar café. Queres?”.
O sabor do intervalo, do café, do chocolate que está mesmo a olhar para mim. E o voltar ao trabalho com nova força. Às vezes dá-me a sensação de que aquilo é uma casa, que só nos faltam as pantufas e o roupão.
Gosto de observar os outros a trabalhar. Uns concentrados no livro daquela disciplina tão difícil, outros a saborear um livro ou a ler um jornal. Aquela senhora com dez calhamaços em cima da mesa, que os analisa tão cuidadosamente. Aquele par de namorados a olhar para o portátil com um sorriso na cara.
Não há dia que lá passe em que não chegue a esta conclusão: ser estudante é muito bom. Ler, saber, conhecer, sonhar mais um bocadinho é bom. Tiremos todas as preguiças daqui, todas as manias de que estudar é uma seca e bom é ficar de papo para o ar. Eu gosto de ficar de papo para o ar, mas tenho a certeza que se me tirassem a escola e os livros uma parte de mim ia com eles.
É verdade. Gosto da biblioteca. E quando for uma jornalista desempregada hei-de ir para lá limpar casas de banho. E sentir o cheiro a livro.
Olhem que podia ser pior.
Um comentário:
Enquanto li-a estava com a sensação que fazias um relato. Que tinhas sentado numa biblioteca algures a observar e escrever. UUUUHH, muito freelancer ! Que chique :D
Depois de te ler, até passei a gostar ainda mais de bibliotecas !
Bjinhu*
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