junho 22, 2009

O triste século XX - o feliz (quase) início das minhas férias :) (perdoem-me a gigantez)

Fechei os livros.
Fechei os livros pela última vez no ensino secundário. A matéria ainda paira no ar, e tento apanhá-la toda para a poder levar para o exame.
Acabo de estudar a História do século XX. Quando digo que em História aprendo as consequências do 11 de Setembro de 2001 e a independência de Timor em 2002, as pessoas acham estranho. No meu livro, as referências vão até ao ano 2005. Estou a estudar História que se passou há quatro anos, e aquela que se passa agora.
Fecho o livro e concluo que estou triste com a humanidade.
Todos os dias o notamos, porque nos entram pela porta as injustiças do mundo em que vivemos. Mas estudá-las com profundidade é uma experiência que mexe cá dentro.
Hoje percebo melhor o mundo em que vivo, depois de estudar estes cem anos em que tanta coisa mudou.
Cem anos em que reinou a sede de poder acima de tudo e de todos.
A Primeira Guerra Mundial, onde tudo começou. A paz mal resolvida. Porquê? Porque os tratados de paz foram elaborados por países vencedores. O que acabou por destruir o seu próprio sentido de "tratados" e os transformou em autênticos ditados que humilharam os países vencidos, em particular a Alemanha.
E não só os países vencidos ficaram descontentes. Também os países vencedores, com sede hegemónica, não viram todos os seus interesses resolvidos.
Sempre, sempre questões de interesses. Bem, interessa que a guerra abalou o sentimento positivista que se vivia até à época. Como todas as guerras, originou uma crise de valores terrível, que fez com que as populações passassem a procurar o prazer de forma desenfreada, depois de quatro anos de uma guerra que não consideravam sua.
À crise de valores acrescentou-se a crise económica gravíssima, com uma inflacção galopante causada pela desvalorização da moeda e pela destruição dos sectores de produção, que conduziu à crise social.
É aqui que se forma uma conjuntura que eu acho muito interessante: com as populações em agitação social, desejosas de um fim rápido para a crise económica, começam a surgir manifestações socialistas que pretendem a instauração de regimes comunistas nos diversos países. Ora aqui entra de novo a sede de poder ou, pior, o medo das classes médias e altas de perderem a sua propriedade privada e, consequentemente, o seu poder económico. Por isso, qual a solução? Regimes autoritários e totalitários, pois claro. Símbolos máximos da segurança e da estabilidade. E também da repressão e da supressão de direitos fundamentais, mas esses não são tão importantes quanto os que se prendem com o capital.
Mas saltei outro marco importante da História do século XX: a Revolução Soviética na Rússia, em 1917. Pela primeira vez, é aplicada a ideologia marxista de instauração de um regime comunista através da revolução popular. Aqui, há algo que acho muito interessante: em nome de uma sociedade mais justa, impõem-se políticas de supressão da propriedade privada e de profunda repressão dos opositores ao regime. Através de uma ditadura do Partido Comunista, os soviéticos pretendem "representar os trabalhadores", que acabam por não ter voz nas políticas a tomar. Já no Estalinismo, levam-se a cabo purgas, depurações, torturas nos campos de trabalho forçado, os "gulags". O que supostamente seria uma sociedade justa que nem necessitaria de qualquer Estado torna-se num regime totalitário e repressivo onde qualquer comentário ou atitude que pusesse em causa o estado seria alvo de castigo severo.
Continuemos. Não vou falar do nazismo, do fascismo, do salazarismo, porque já todos os conhecemos minimamente, e não quero maçar-vos demasiado.
Falemos então da grande consequência da Segunda Guerra Mundial (cujas motivações foram também puramente hegemónicas e super-nacionalistas): a Guerra Fria.
A Guerra Fria, como o próprio nome indica, foi uma guerra onde não se fizeram sentir confrontos directos, que não "aqueceu". Não houve nenhum conflito armado, pronto! Mas isso não faz dela uma "guerrinha", não... foi coisa séria! A corrida aos armamentos de destruição maciça chegou a pôr em risco a própria existência do planeta! Foi um período de tensões terríveis, ora com o avanço de um, ora de outro. Foi uma guerra que acabou por desenvolver tecnologicamente tanto URSS como EUA a níveis nunca antes vistos.
Aqui, se olharmos bem cada acontecimento, cada movimento de cada um dos dois blocos, notamos que tudo, tudinho é feito com base em interesses. Não há um único acto desinteressado de aproximação dos povos. Tudo tem segundas intenções, o que torna esta época muito complexa. Tive bastante dificuldade em assimilar tanta coisa! O apoio dos Estados Unidos à Europa no segundo pós-guerra, com o Plano Marshall, que na realidade escondia interesses políticos e económicos; o apoio dos regimes totalitários por parte dos EUA apenas para impedir o avanço soviético; o apoio dos movimentos de descolonização por parte da URSS apenas para expandir o comunismo; a instalação de mísseis nucleares em Cuba, supostamente "simples mísseis defensivos" que na realidade serviram para gerar o medo no seio dos Estados Unidos, etc., etc., etc.
Mas o bloco soviético acaba por ruir - talvez porque, em vez de investir em actividades produtivas, se preocupou mais com o potencial militar, que não rende! E os Estados Unidos afirmam-se como a grande superpotência mundial, ao lado de novas potências que se vão afirmando: o Japão, onde se operou um autêntico "milagre económico"; a China - que se apoia em mão de obra barata e sem direitos de trabalho -, onde nascem "Zonas Económicas Especiais", onde a economia de mercado se intercala com uma política comunista de supressão das liberdades individuais; os "Dragões" e os "Tigres Asiáticos", também com mão-de-obra conformista, abundante e esforçada, que através da abertura a tecnologias e capitais estrangeiros se afirmam no cenário da economia mundial.
E chegamos à actualidade. A triste actualidade, que é produto da globalização económica, política, ideológica, tudo! Até os valores como "os fins justificam os meios" se globalizam muito bem globalizados. O mundo atingiu uma fase em que o poder é tudo, o dinheiro é tudo, e o resto que se lixe. Aliás, por alguma razão surgem organizações não governamentais de defesa dos direitos humanos, de solidariedade... porque as pessoas precisam de sentir que mudam alguma coisa! Na verdade são os poderosos que mandam, e que decidem como vai o mundo. Mas todos sentimos a necessidade de transformar este mundo num sítio melhor, por cima de todos os interesses!
Penso que tudo isto se incorpora numa só palavra: neoliberalismo. É uma doutrina económica que a mim me põe os cabelos em pé e me dá suores frios. Porque me lembra que, por este andar, daqui a uns anos até a saúde é privada e limitada aos senhores endinheirados. É caracterizado por uma crescente diminuição da intervenção do Estado na economia. E isto traduz-se em menos preocupações com direitos dos cidadãos: de acesso à educação, à saúde, de trabalho digno sem explorações. Ou seja: o Estado não quer saber da economia, e por isso quem quer saber dela são aqueles que gostam do dinheiro. E aqueles que gostam do dinheiro gostam mais dele do que das pessoas!
Para dar um exemplo, hoje estava a fazer um exercício sobre um texto de presidente da Sonae, Belmiro de Azevedo, em que ele dizia: "Se é mais barato produzir fora, se o preço é a variável de decisão essencial, deslocalize-se a produção". Ora não vamos pensar porque é mais barato produzir fora! Não, que isso fica mal dizer! Porque por cá há trabalhadores conscientes dos seus direitos, há salários médios ou altos a pagar, e lá, nos países asiáticos, é bem mais fácil e barato! Os trabalhadores são esforçados, e não pedem grande coisa. São explorados até à espinha, e trabalham o triplo ou o quádruplo dos ocidentais, apesar de receberem muito menos. Mas é mais barato, aqui vamos nós!
Bem. Ainda podia falar de tantas outras coisas... de questões transnacionais como o ambiente, o terrorismo, a explosão das realidades étnicas, que todos os dias abundam nos meios de comunicação... mas isso está à vista.
O que concluo disto tudo é que é cada vez mais difícil viver num mundo assim, onde a sede de poder e de dinheiro é tudo. É preciso ter consciência crítica destes perigos para conseguirmos que não nos influenciem. É preciso que não cedamos a estas lógicas do dinheiro acima dos direitos humanos. E é preciso também que deixemos um pouco a nossa individualidade para ganharmos consciência de que há mais pessoas neste mundo, e que incrivelmente não são só as duas dúzias de pessoas que consideramos muito importantes para nós. É preciso ter consciência de que somos humanos, e por isso temos de ser iguais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Está um texto muito bom: sempre fui muito boa aluna a história e sinto-me incapaz de fazer um resumo tão sucinto mas completo de toda a história do século XX.Denoto apenas uma pequena imprecisão: a queda do regime comunista na URSS resultou da desadequação da produção à procura de bens de consumo que era feita pelas populações e não exactamente do facto de a indústria da guerra ser pouco rentável (se assim fosse, talvez não existissem tantas guerras).
Apesar de concordar com as preocupações manifestadas, gostava de deixar algumas "contra-interrogações" que me vêm à cabeça de vez em quando:
Será que os japoneses são explorados ou faz parte da mentalidade deles gostarem de trabalhar que nem doidos? Faz sentido impor uma universalização dos Direitos Humanos, na sua grande maioria de inspiração ocidental?
Os poderosos mandam no Mundo - quem lhes dá esse poder? Não é o resultado de uma demissão de vários indivíduos em darem o seu contributo cívico? Mas por outro lado, não é um direito desses indíviduos não darem o seu contributo e deixarem que outros o façam por si?

Inês disse...

Olá, Anónimo.
Gostei muito do teu comentário.
Realmente foram vários os factores que levaram à queda do bloco soviético, e eu não os mencionei todos, o que fez com que fosse um bocado imprecisa, é verdade. Foi uma maneira de não ser demasiado longa. Essa razão, da desadequação da produção à procura de bens de consumo que era feita pelas populações é verdadeira... e outras também. Mas se notares, o facto de a procura ser superior à oferta leva à razão que eu apresentei... os russos eram desenvolvidíssimos em termos de indústria pesada e de produção de bens militares, mas não em bens de consumo! O que leva a este problema: eram muito ricos, sim senhor, mas a população nem por isso! E nem sequer permitiam a importação de bens do ocidente! Na minha modesta opinião, foram um bocado burros. Se investissem menos na indústria da guerra e mais em bens de consumo, seria bem mais rentável e não havia descontentamento da população!
Quanto aos japoneses, é verdade. A mentalidade é muito diferente da nossa. Mas nem estava a falar desse caso em particular. Falava por exemplo da China, cujos produtos todos consumimos (todos já vimos e consumimos milhares com etiquetas "Made in China" aqui no ocidente), do Vietname, da Indonésia... tudo países onde a mão-de-obra é barata, e não deixa de o ser porque não interessa.

E gostei muito das últimas perguntas. Já me perguntei várias vezes se temos de impor os nossos valores a sociedades totalmente diferentes das nossas.
É verdade que se perguntarmos a uma mulher de um país muçulmano, por exemplo, se acha que a forma como a tratam é justa ela vai dizer que sim, porque sempre aprendeu assim e não conhece outra forma de vida!
Se perguntarmos se preferia trabalhar como os homens, é capaz de ficar escandalizada!
Mas penso que não nos devíamos aproveitar disso. Se virmos as economias destes países asiáticos em expansão, cujo maior exemplo é a China, vemos que a maioria das empresas lá sediadas são ocidentais, daqueles que supostamente têm os mesmos valores que nós. Não me venham dizer que os senhores da Nike e da Adidas, por exemplo, que produzem lá, acham super normal empregar trabalhadores a um preço baixíssimo. Não; estão é a zelar pelos seus interesses e a explorá-los como querem!
Quanto aos poderosos... infelizmente isso é verdade. Já não há esperança, já não há força para lutar. O sistema é sempre mais forte. E isso dá-lhes muito mais poder. Acho que é triste que as pessoas não reconheçam o seu dever cívico de participar nas escolhas do país. Acho triste a abstenção que houve nestas eleições europeias, por exemplo! E não foi só em Portugal!
Mas isso não tira culpa alguma àqueles que se aproveitam dos outros para fazer dinheiro, na minha mente retorcida.
É o mundo que temos; e não o temos de aguentar, temos é de o mudar!

Vera disse...

bom resumo da matéria para o exame nacional, maria ;)