abril 16, 2010

Jornalismo?


"Jornalismo da era do refresh" - é esta a designação que Nuno Markl dá ao Jornalismo que se faz e se aprende hoje. Um jornalismo que já é mais do que JAC (Jornalismo Assistido por Computador), como se tem falado nas minhas aulas de Online, mas que é um Jornalismo de Computador, que não sai da redacção, que espera comodamente que o botão "refresh" do browser nos traga notícias fresquinhas.
Tinha que vir contrapor estas afirmações. Como estudante de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria e Multimédia, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - estou farta deste nome gigante - posso dizer que não é este o Jornalismo que se aprende hoje. Que, num tempo em que a lei do menor esforço perpassa todas as áreas da nossa vida, está a fazer-se um esforço para que ela não esmague aquilo que é o Jornalismo por excelência: um jornalismo que vê a notícia como uma construção da realidade, não como uma verdade absoluta.
A notícia é, antes de mais, fruto do trabalho do jornalista - que nunca deixa de ser subjectivo, porque é humano. A realidade é vista pelos olhos de um homem, de uma mulher, que (supostamente) está à procura da verdade, e que olha para as diversas partes de um mesmo problema de maneira a chegar a uma conclusão o mais abrangente possível, em vez de gritar as suas próprias conclusões, baseadas nos seus próprios valores.
A verdade é que a própria realidade é subjectiva - não é absoluta, estanque. Que um facto é um facto, mas pode ser tratado das mais diversas formas.
É utópico pensar que o jornalista é objectivo e imparcial, e que a notícia é a descrição pura e simples da realidade. Era bom - mas ainda não somos Super Homens. Antes de mais, como dizia numa aula a jornalista Ana Fonseca, o jornalista tem de verdadeiro. Não tem de esconder o que sente em relação a determinado assunto: não lhe é pedido que deixe de ser humano, que deixe de sentir. Num acidente em que morrem dezenas de crianças, o jornalista não tem (nem pode) optar por uma postura de indiferença.
O que não pode é dar a sua opinião. Mostrar revolta ou uma alegria desmedida em relação a determinado assunto. Numa entrevista ao Papa, não pode transparecer o seu ateísmo ou a sua fé cristã. Na moderação de um debate político, não pode mostrar ser do PS ou do CDS.
O jornalista tem de ser verdadeiro, afirmar aquilo que pode comprovar e nunca fazer afirmações gratuitas.
E tem sempre de procurar ir mais longe. Por muito que a Internet seja uma ajuda enorme na procura de fontes e na própria divulgação de notícias, não é suficiente. Há que sair, que falar com pessoas, que investigar. Para não falar no perigo que a Internet pode ser. É demasiado fácil manipular informações online, e não basta "Googlar" qualquer coisa para se elaborar uma notícia credível. É preciso validar todas as informações, comprová-las.

Posto isto, penso poder afirmar que aquilo que a Nova Gente fez em relação a Nuno Markl, ainda para mais numa situação tão delicada, não foi jornalismo.
Não sei bem como o posso classificar. Mas claramente não é jornalismo. Alguém que se limita a pegar num texto de um blog pessoal, lhe dá o título de "Carta aberta da semana" e nem tem a decência de mencionar o local de onde o tirou, não é um jornalista. Eu, nos meus trabalhos do 5º ano, era mais cuidadosa - havia sempre uma página chamada "Bibliografia".
O jornalismo não anda pelas ruas da amargura. Aliás, num tempo em que tudo se diz, tudo se publica, tudo é informação, ainda existe gente com capacidade para fazer um trabalho decente.
Existe, no entanto, um grupo de pessoas que gosta de se auto-intitular "jornalista" e que, na verdade, é um simples funcionário de um capitalismo interesseiro, que não traz nada de novo.
Tenho pena que o Zé Povinho contribua para o crescimento destas máquinas de fazer dinheiro com base na exploração da vida privada das mais diversas figuras públicas.
É triste, sim, Nuno Markl.
Mas (felizmente) não é jornalismo.

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