
- Então boa viagem e bom Natal!
Ontem pronunciei pela primeira vez desde que estou em Roma estas duas palavras: “Bom Natal”. Soaram estranhas, principalmente porque nunca o tinha dito a estas pessoas. Desde que as conheci, habituei-me a tê-las sempre presentes, dia após dia. No outro dia (ou será que foi ontem?) chegámos até à conclusão que deveria haver um estado no Facebook de poligamia: “Inês Rocha está casada com: Raquel Teixeira, Mariana Sousa, Ana Almeida, Vanessa Ramos, João de Almeida, Pedro Camelo, Cláudia Rosete”. Estamos todos numa relação (quase) conjugal. Vivemos juntos, partilhamos a nossa vida, dia após dia, uns com os outros. Aprendemos a lidar com os defeitos e a adorar as qualidades. Contornamos as discussões, festejamos as alegrias. Somos quase um casal. Mas um bocadinho mais alargado.
E aquele “Bom Natal” senti-o quase como um “quero os papéis para o divórcio”. O fim aproxima-se. E eu queria que o relógio andasse ao contrário, para voltar outra vez a 3 de Setembro. Na quinta-feira estou de volta a Portugal, para estar com a família e os amigos, de quem tenho tantas saudades. E depois dessas duas semanas longe da Cidade Eterna, começa a contagem decrescente para o fim, vulgo “exames”.
Ontem aquele abraço “engrolhadinho” às quatro da manhã soube-me a estranho, como se quisesse atá-los para perderem o avião para a Polónia. Ainda temos uns dias, porque é que vão já embora?
Parece demasiado dramático, demasiado fatalista. Mas acho que se fosse uma pessoa normal teria chorado. Como diz a Raquel, “pela maneira como me sinto agora, acho provável que venha a chorar hoje”. O que vale é que a “randomness” se propaga e a seguir a frases como esta rimo-nos como umas perdidas.
O espírito de Natal está mesmo a apoderar-se de nós. Fizemos uma bela ceia de Natal, e dou oficialmente as honras à Joana Silva pelo cozinhado divinal. Já não comia bacalhau com natas assim… há c’anos! Soube muito a casa (como se eu ainda me lembrasse do bacalhau com natas da minha mãe! Sim, mãe, isto é uma indirecta), e note-se que foi feito para 18 pessoas! De-zoi-to pessoas metidas na casinha mais piccolina de sempre. Quem já aqui esteve deve saber do que estou a falar.
Foi uma noite muito bonita, com uma troca de presentes à profissional – todas cheias de estilo. O Pai Natal devia ter inveja de nós. Com uns troquitos é mesmo possível trocarmos carinho uns com os outros… podem ter a certeza absoluta!
Esta cidade é muito pouco natalícia. Sinto falta das iluminações lindas do Porto, das árvores de Natal gigantes por todo lado, até das montras todas enfeitadas, apelando ao consumismo. Mas verdade verdadinha? O verdadeiro espírito natalício está numa árvore com 20 centímetros de altura à porta de casa, numa voz estridente a mendigar cinquenta cêntimos porque o Natal anda a pesar nas carteiras, nas canções de Natal semi-afinadas que se cantam em autocarros malcheirosos ou no meio das ruas. Está naqueles sacos do lixo pretos com amizade lá dentro e na linha de montagem que é capaz de se criar em três cozinhas diferentes.
O espírito natalício, bem lá no fundo, está dentro de nós. E só por isso este já começou a ser o melhor Natal de todos.
4 comentários:
Nossa, que linda a frase de seu perfil. ''Sou uma pessoa e quero ser uma guitarra''. Adorei !
Estava passeando pela net e vi seu blog... Tenho um blog musical, bastante eclético. A proposta é a divisão musical segundo temperos e cores auditivas.
Se possível dê uma passadinha por lá, ok ? www.temperomusical.blogspot.com
;-)
Abraço.
Essa frase é de uma música do grupo português Deolinda, "Canção da Tal Guitarra".
http://www.youtube.com/watch?v=JS047FhM-jY
Aconselho vivamente a ouvir...
Obrigada pela visita! Gostei bastante do teu blog... *
Li tudo com atenção, fixei-me em alguns pormenores, mas no fim de contas há uma dúvida existencial profunda que assalta o meu espírito:
F@%#-se!! 18 pessoas nesse cubículo???
Cum catano!
LOOOOL é verdade, não me perguntes como! Mas foi possível...
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