Sonho

Estava aqui presa entre o sono extremo e a preguiça de desligar tudo para dormir. Dei por mim num impasse, numa luta contra mim mesma, e não consegui mais do que ficar estagnada, a olhar para o ecrã e anestesiada pela música. Abri o blog. No título, ainda a imagem do Mercado de Trajano. Agora, não consigo pensar nele sem pensar que alguns metros à frente está o monumento a Vitorio Emmanuel II, a piazza Venezia, onde passei milhares de vezes. Que mais atrás está o Fórum e o Colosseo, imponente. O nosso lugar. Não consigo olhar aquela como a simples imagem que encontrei no google antes de partir e que me pareceu enquadrar com as cores do template. Atrás daquela imagem estão milhares de memórias que apertam no peito. Talvez seja também por isso que não tenho andado por aqui. Não tenho coragem de mudar a imagem - isso seria sinal de fim definitivo, de avanço para uma nova história. E uma parte de mim ficou lá. Mudar a imagem é quase como apagar uma parte de mim.

Por isso, quando me lembro que este espaço ainda existe, acabo por não ter nada que dizer. É um blog que ainda pertence a Roma. Como eu.

Não me lembro todos os dias da minha vida lá. Ando demasiado ocupada para isso. Aliás, parece que deixei aquele mundo há dez anos. Cada vez mais longínquo. Como um sonho. Mas quando penso na liberdade extrema que experimentei, sinto saudades de mim naquele sonho que sonhei em conjunto com outas pessoas.

Eu sei isso tudo. Eu sei que Roma já passou e que há vida para além dessa experiência. Que posso viver coisas novas e bonitas cá. Que também há liberdade no Porto. Que só tenho que transportar essa Inês para aqui. Mas só quem viveu aquilo é capaz de perceber o quão longe andamos desse estado - de nos sentirmos em casa para onde quer que vamos e de saber que cada dia é mais um risco no calendário da contagem decrescente. Chama-se viver ao máximo. Chama-se dar tudo, porque amanhã tudo não passam de memórias. De um sonho bem longínquo.

Eu não ia falar de Roma. Mas foi aquela imagem. E foi inevitável.