Não consigo aguentar o peso.
Saio da faculdade e vou para a paragem em passo apressado, com o saco do tripé a bater-me nos joelhos. Nas costas, a mochila que carrega a minha vida como uma carapaça pesa-me os ombros. Contrabalanço o peso com a saca da câmara, que penduro no pescoço por não haver mais sítio onde a pendurar. Arrasto-me, e apresso-me, para disfarçar o peso que sinto. Cá dentro, mais pesado que nos ombros.
Distraio-me, crio na cabeça histórias de patrões mal encarados que se tornam santos à beira da mãe. Ou de rufias que não passam sem um copinho de leite quentinho. Sou realizadora de filmes sem conta e sem fim, para me distrair da história que não me sei contar. Paro, despejo a tralha no chão e o olhar na noite. Naquela noite que não me sai de dentro, onde o sol não sabe nascer.
Olho para o passado, aquele que é tão colorido que chega a ser doentio. Hoje sinto-o especialmente forte. E invadem-me as saudades de não saber nada, mas principalmente da sede de saber e de ser tudo. Transformei os meus olhos em lentes de câmara com o manual focus activado. Foco e desfoco memórias e quero, preciso, de as tornar reais.
Contrasto as memórias vividas com o presente que constantemente imagino, por não o saber viver. E espero um acontecimento qualquer que me mude a vida ou que, pelo menos, me dê a coragem de pisar o risco.
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