Carta

Querido Jesus,

Este ano decidi não escrever ao Pai Natal. Havia muita coisa a pedinchar, mas não me apeteceu mais um Natal de prendas para meter ao bolso. Este ano estou confiante que as prendas vão ser melhores – mais vindas do coração.

O Pai Natal dá muito jeito de vez em quando, mas a gente vira-se é para ti quando está a precisar de Esperança. E como eu sei que coincides com o melhor de mim mesma, lembrei-me de te falar. Quando penso em ti na minha vida, lembro-me dos dias claros, da confiança no futuro e nos olhares à minha volta. Lembro-me de ter o coração menos encolhido e de saber exatamente como me sentir todas as manhãs.

Mandei-te embora dos meus dias há algum tempo. Faço-o constantemente. Assim não me ponho muito em causa e vou seguindo no adormecimento dos dias.

Mas agora não. Este Natal, preciso que voltes e me acordes o coração. Preciso que me ensines tudo de novo. Aquilo de perdoar as pessoas, sabes? De as deixar ir e não as trancar cá dentro a sete chaves? Estou a precisar de ouvir a história toda de novo.

Não leves a mal. Quando nos trocam as voltas e os caminhos, é fácil confundir tudo. Deixamos o rancor tomar o seu lugar, devagarinho, arranjamos as pessoas certas para culpar e já está. O nó no estômago vai aumentando de dia para dia e a Esperança, aquela Esperança boa, já lá não fica.

Desfaz-me estas lógicas que o meu cérebro teima em criar. Devolve-me a lógica do Amor, da Liberdade, prova-me que só essas resultam. Devolve-me a vontade de ser criança, mas não infantil. Devolve-me a vontade de andar sem pavor de dar com a cabeça na parede. Se bater, deixa que bata mas com força. E que depois volte ao caminho, pronta para nova cabeçada.

Este Natal, Jesus, ajuda-me a cortar o fio que ainda me prende às lógicas pobres que não fazem parte do teu Reino. Ensina-me a tua maturidade e desfaz-me estes nós, próprios de quem não conhece a força do teu Amor.

Este Natal, tens aqui um lugar. Espero que tenhas vindo para ficar.