O que nos arranca os pés do chão
e nos faz querer chegar a outro lugar? É o egoísmo? A incapacidade de lidar com
as prisões? A emancipação? A busca da verdade fora de nós? A fuga? O
auto-conhecimento? O conhecimento do mundo? O auto-conhecimento pelo
conhecimento do mundo?
Devemos ficar? Ou deixamos a
chave ao vizinho para vir regar as flores e dar comida ao cão?
De onde vem a busca incessante
pelo desconhecido? É a negação do conhecido?
De repente, substituímos sonhos antigos por novos. Como se
aqueles primeiros, que nos acompanharam o crescimento, que mergulharam no mais
profundo de nós e nos mudaram, de repente fossem um passado muito longínquo.
Como se a sua concretização tivesse sido, ela mesma, um sonho.
De repente, temos a sensação de que o que somos se desfez
com eles. Quando regressamos à realidade de sempre e, a pouco e pouco, deixam
de nos ocupar a mente a toda a hora, e desaparecem como vieram -
silenciosamente.
Por que sonhos os substituímos? Que sonhos são suficientemente
importantes para deixarmos que acompanhem o resto da nossa vida?
Quando começarmos a arquivar memórias e a concretização
daquele sonho antigo for diretamente para uma gaveta, para de vez em quando a reabrirmos
de olhos a brilhar, em que pomos a nossa energia, o nosso querer mais profundo?
Tapamos os buracos com ocupações menores, que nos ocupem o
cérebro? Ou arriscamos tudo, à espera de abrir novas gavetas que nos façam
brilhar os olhos?
"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu."
Fernando Pessoa
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