Porque se canta, ainda, na Liturgia?
«É entusiasmante saber que, todas as semanas, milhares de pessoas de centenas de Coros, na nossa diocese, se preparam para a celebração litúrgica, a fim de, pela sua voz, testemunharem a Fé que receberam e ajudarem os seus irmãos, na oração e na celebração dos santos mistérios. E muitos destes Coros, não necessariamente os que aparecem na TV e se apresentam na Rádio, realizam um serviço esmerado, quase perfeito.
É verdade que não faltam, também, os que por ignorância ou preguiça, a que se juntam uma insensata vaidade e/ou outras razões indignas de menção, deitam a perder o tesouro que representa a Celebração eucarística dominical. Em vez de cantarem a Missa, cantam na Missa. Também nestes casos, se trata de um problema de audiências! (Não consideramos aqui os grupos de circunstância de carácter particular, frequentemente familiar, que não poderão ser tomados a sério).
Mas, porque cantam? Eis uma pergunta que merecia uma resposta sincera…
Quem canta, seu mal espanta. Será isso?! Na realidade, ao ouvir alguns dos cânticos nessas celebrações difundidas pela Rádio ou pela Televisão (que envenenam certos coros amadores…), fica-se com essa impressão. Pela nossa parte, julgamos sempre que podem fazer muito melhor do que aquilo que ouvimos. O repertório é frequentemente deplorável ou porque não está à altura de quem o apresenta ou porque não tem nível.
Com efeito, nos últimos tempos, têm surgido nas celebrações repertórios sem um mínimo de gosto e de critério. Poderiam seguir, ao menos, o razoável e acessível repertório nacional proposto. Mas não. A atracção pelas novidades, por certa moda estabelecida, tem mais força do que saborear um bom cântico (que até custou a aprender), mas que, sendo antigo, tem sempre sabor de novo quando se aprofunda. Os outros são sempre velhos, mal se cantem, porque não têm profundidade.
Como é possível trocar os textos bíblicos, inspirados por Deus, ou litúrgicos com a marca de qualidade da Tradição da Igreja, isto é, os cânticos do Espírito, por cantigas que não passam ou de banalidades (marca de momento ou de circunstância) ou de desabafos inconsistentes e cansativos, produzidos por patologias psíquicas? Onde aprenderam isso? Não foi, certamente, na catequese ou em movimentos de espiritualidade!
E a música? Não se parece com a música da Igreja! A música da Igreja é música de oração que faz escutar a voz de Deus e que provoca a voz da Esposa, a Igreja. Às vezes, é mesmo muito semelhante aqueloutra “música” que se faz ouvir em qualquer convívio ou divertimento, muito sensual, sentimental, espécie de balada embaladora, oca e obstinada. O que deixa? Um fosso espiritual que se vai aprofundado até ao vazio completo!
Mas que maravilha quando se canta a Missa! Sim, os textos propostos (ou outros semelhantes, de acordo com as possibilidades dos executantes), com música autêntica e adequada. Então, a voz de Deus ressoa no interior e desperta para a comunhão com Ele, fonte da verdadeira alegria, paz e felicidade! Aí, a música não é enfeite, nem “animação”, nem preenche nada, porque se integra no todo e nos integra totalmente, numa comunhão que é obra de Deus.
Guardemos o sábio conselho de um monge que faz do canto uma verdadeira oração:
«Se o coro não traz ao Ofício mais vida espiritual, que se cale! Se o canto não se destina a fazer-me rezar, que se calem os cantores! Se o canto não se destina a apagar o meu tumulto interior, que se retirem os cantores! Se o canto não tem o valor do silêncio que quebrou, restituam-me o silêncio! Todo o canto que não tende a promover o silêncio é vão!»
E, ainda, esta saborosa história recolhida da tradição judaica:
«Percebendo que, um dia, um velho nada compreendia, visivelmente, do seu sermão, o Rabi Zalman Schnëur de Ladi aproximou-se dele e disse-lhe: – Talvez tudo quanto acabo de dizer não te seja muito claro, mas ouve o que te vou cantar e saberás como te afeiçoar a Deus. E o Rabi Zalman Schnëur começou a salmodiar uma melodia sem palavras, e o coração de cada um sentia estremecer a Thora, vibrar o amor de Deus e toda a fé do homem. Então o velho, em lágrimas, exclamou: – Finalmente compreendi agora o que querias dizer: como a corça anseia pelas fontes das águas, minha alma tem sede de Ti, Senhor, minha alma tem sede do Deus vivo»
S. D. L., Voz Portucalense
São dois posts muito seguidos, não era suposto. Só que não podia deixar de comentar isto.
A verdade é que fiquei chocada. Porque não pensava que ainda havia pessoas TÃO pouco receptivas, tão conservadoras, tão retrógradas.
Como podemos considerar que alguns coros, por “cantarem a missa”, ou seja, com as palavras que estão escarrapachadas na Bíblia, prestam “um serviço esmerado, quase perfeito” e os outros são uns ignorantes, preguiçosos e vaidosos? Porque não usam exactamente AS PALAVRAS que lá estão? E a Palavra? Aquilo que ela faz acontecer em nós? Porque na Bíblia o que interessa não são palavras mas a Palavra, ou seja, o sentido que essas palavras fazem na nossa vida!
Será que não podem “ser tomados a sério” aqueles que preferem cânticos alegres, cânticos que mostram realmente aquilo que a Palavra de Deus pode fazer na nossa vida, a cânticos apagados e chochos, com os quais não se identificam minimamente? Talvez as letras tenham dois mil anos, não quer dizer que as pessoas tenham de se identificar com elas!
Porque essa “atracção pelas novidades”, pela “moda estabelecida”, talvez seja um sinal de mudança na forma de os Cristãos verem a Igreja!
“Como é possível trocar os textos bíblicos, inspirados por Deus, ou litúrgicos com a marca de qualidade da Tradição da Igreja, isto é, os cânticos do Espírito, por cantigas que não passam ou de banalidades (marca de momento ou de circunstância) ou de desabafos inconsistentes e cansativos, produzidos por patologias psíquicas?”
Não, esta mata-me. Desde quando é que a Tradição tem de estar correcta? Desde quando é que esses “desabafos inconsistentes” não são sinónimo da recriação que o Espírito Santo provoca em nós? Essa experiência é demasiado boa para ficar guardada para nós! Porque raio é que não a havemos de partilhar através da música? E será assim tão errado que essa mesma música seja cantada na Eucaristia? Por favor, ela é precisamente sinal de que a Palavra de Deus actuou na nossa vida!
“Mas que maravilha quando se canta a Missa! Sim, os textos propostos, com música autêntica e adequada.”
Eu devo ser uma católica muito pecadora, mas essa “música autêntica” a mim não me diz nada, não passa de melodia sem alegria e sem ritmo, que em vez de me “despertar para a comunhão com Ele” me deixa confusa no meio de palavras que não são do meu tempo e que não fazem minimamente parte da minha caminhada.
Se calhar sou eu que sou muito burra, mas continuo a cometer o erro de me afeiçoar a Deus sem cânticos com mais séculos que eu e com linguagem que não faz sentido para a minha vida.
7 comentários:
Fonix... consegui ler tudo.
Olha, para a próxima coloca uma letra um tanto maior... eu vejo bem mas com o avançar da hora, já tenho algumas dificuldades. E letras brancas num fundo preto... é de trocar a vista em pouco tempo!?
Sabes... estava difícil perceber que raio querias dizer com tanto texto. Mas depois fez-se luz... espera lá, a primeira parte é a transcrição da opinião de algum coitado do século passado que ainda pensa que só o antigo é que é correcto!? E só quando comecei a ler os teus comentários à partilha do "pobre coitado"... fez-se luz.
Bem, realmente há muita coisa por aí... umas boas, outras menos boas. De qualquer modo o importante é que a música seja instrumento para a oração... seja ela qual for e de que ano for. É claro que há músicas que se ajustam mais à Palavra dessa Eucaristia, no entanto, seja que música for, ela deve-nos sempre ajudar a interiorizar a Palavra, a saboreá-la... tudo o resto... são tretas e histórias às quais nem se deve ar atenção.
Continua...
Pois é, cum raio, (para utilizar também a expressão), quando se acha que só "eu é que tenho razão" e o que não me serve não pode servir aos outros, é que surgem textos como o transcrito.
Nã percebo porque que é que o autor do texto não propõe que cantemos em latim, ou que todos aprendamos canto gregoriano!
Cada "macaco no seu galho" e se é "bonito" e até espiritualmente rica uma Missa cantada, com todo o cerimonial próprio da liturgia, não o deixa de ser também uma Missa animada, alegre que leve à participação de todos.
Claro que há coisas que são menos boas ou mesmo más, mas a verdade é que de uma maneira geral essas "não vingam".
Aliás, parece-me a mim, a resposta é dada pelo autor do referido texto, aqui:
«Se o coro não traz ao Ofício mais vida espiritual, que se cale! Se o canto não se destina a fazer-me rezar, que se calem os cantores! Se o canto não se destina a apagar o meu tumulto interior, que se retirem os cantores! Se o canto não tem o valor do silêncio que quebrou, restituam-me o silêncio! Todo o canto que não tende a promover o silêncio é vão!»
Ora bem, este monge fala no canto, não num canto especifico, mas naquele que leva à oração!
E "prontos" não digo mais nada...
Abraço em Cristo
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!
Aiiii... (suspiro)
Esta "moça" (com muito carinho) só tem 16 anos e já é tão sábia.
Que espectáculo!!
Continua, vais longe "miúda" (com carinho outra vez)
Antes de mais deixa-me dar-te os parabéns por este post, depois de um discurso de um "pobre coitado" como o tonito diz vem uma mão cheia de sabedoria e gosto pela vida à luz de um Deus Amor...
Eu estou totalmente de acordo com o tonito quando diz: "realmente há muita coisa por aí... umas boas, outras menos boas. De qualquer modo o importante é que a música seja instrumento para a oração... seja ela qual for e de que ano for. É claro que há músicas que se ajustam mais à Palavra dessa Eucaristia, no entanto, seja que música for, ela deve-nos sempre ajudar a interiorizar a Palavra, a saboreá-la... tudo o resto... são tretas e histórias às quais nem se deve ar atenção"
acredito profundamente que Deus te prefere a pecadora mas que olhas para ele como sentido para a tua vida do que "pura" mas que o enches com palavras vazias as quais não as entendes.
Fico feliz por encontrar neste mundo cibernético alguém que partilha o mesmo que eu que vale a pena continua a lutar por cantar músicas menos instituídas se mais não for para que os “católicos muito pecadores” percebam que o Deus de à 2000 anos ainda hoje se revela e fala...
Inês se fazes parte de algum coro não deixes de lutar por cantarem músicas também menos tradicionais vais ver que no final o esforço será compensado.
Continua…
Anónimo...
Não faço parte mas já fiz e as coisas não acabaram muito bem por causa desta mesma intolerância...
Se calhar é por isso que fico tão revoltada com este assunto. Saí, pura e simplesmente, porque se tivesse ficado não ia ser de boa vontade.
Mas obrigada pelos comentários (:
quem sabe se... aqui ou ali... as coisas não vão mudando aos pouquinhos... acredito que é possível... tu e tantos outros Corações assim são pedacinhos de bom "fermento"... como uma boa "virose" a infectar o mundo com a descoberta do Amor louco e feliz de Deus!!!
gosto muito da maneira como pensas, Inês... A vida, e o Deus pleno de Vida é tão simples e tão belo, porque havemos nós de teimar em "vesti-l'O" e "escondê-l'O" no meio de melodias que já não saem do nosso Coração, que não despertam o nosso olhar, que não nos cativam nem nos fazem pensar n'Ele... afinal de contas é suposto ser Ele o centro...!!!
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