“Quase ninguém o sabe, mas o amigo Sempere não punha os pés numa igreja desde o funeral da sua esposa Diana (…). Talvez por isso todos o tomavam por ateu, mas ele era um homem de fé. Acreditava nos amigos, na verdade das coisas e em algo a que não se atrevia a dar nome nem rosto porque dizia que era para isso que os padres serviam. O senhor Sempere acreditava que todos fazíamos parte de alguma coisa e que, ao deixar este mundo, as nossas recordações e os nossos anseios não se perdiam, passando ao invés a ser as recordações e os anseios daqueles que vinham ocupar o nosso lugar. Não sabia se tínhamos criado Deus à nossa imagem e semelhança ou se Ele nos criara a nós sem saber muito bem o que fazia. Acreditava que Deus, ou quem quer que aqui nos pusera, vivia em cada uma das nossas acções, em cada uma das nossas palavras, e se manifestava em tudo aquilo que nos fazia ser mais do que meras figuras de barro. O senhor Sempere acreditava que Deus vivia um pouco, ou muito, nos livros, e por isso dedicou toda a sua vida a partilhá-los, a protegê-los e a certificar-se de que as suas páginas, assim como as nossas recordações e os nossos anseios, jamais se perderiam, porque acreditava, e fez com que eu também acreditasse, que, enquanto restasse uma única pessoa no mundo capaz de os ler e de os viver, haveria um pedaço de Deus ou de vida.”
"O Jogo do Anjo", Carlos Ruiz Zafón
O senhor Sempere era um homem sábio. Talvez não pusesse o mesmo nome que eu ponho às coisas, mas no fundo acreditava no mesmo.
Eu acredito que Deus sabia muito bem o que fazia quando nos criou, ainda que sejamos peritos em estragar tudo. Acredito que vive em cada dedo que mexemos, se o mexermos por amor. Acredito que nos faz ser bem mais do que figuras de barro, porque vive em nós, e isso torna-nos humanos.
Ele acreditava nos livros, como eu acredito, porque sei que um livro pode mudar uma vida. Pode penetrar no mais fundo da alma, pode fazer sentido ao ponto de nos tornar mais sábios na teia de relações que nos têm. Quando Deus fala através de livros, isso significa duas coisas: ou que são livros saídos do coração de qualquer escritor com a vida nos dedos, ou que o leitor sabe transformá-lo ao ponto de criar em cada palavra um sopro de esperança. Mas a maior parte das vezes, significa as duas coisas ao mesmo tempo.
Enquanto existirem corações livres, experientes no livro mais humano de sempre (e não falo da Bíblia), existirá Deus. Porque Deus não é uma coisa de calhamaços, mas da palavra que cada livro cria no seio de um coração feliz.
Deus é uma coisa de gente feliz, que sabe que as palavras são bonitas, mas só se servirem para fazer Palavra no mais íntimo de nós...
2 comentários:
ui... Ui.!!!!
UAU!
Caneco, Maria Inês!!!
Vamos descer o monte ;)?!
A caminho...
SHALOM
És mesmo bunita. *
Postar um comentário