setembro 13, 2009

Raio do chato

Hoje entrei no teu quarto e caí em mim.
Em cima da cama, da cadeira, da secretária, toda a roupa que habitualmente está dependurada no teu armário de madeira. As t-shirts, as sweats, as camisolas polares e os casacos de neve bem organizados, tanto que se torna óbvio que a mãe teve mão ali.
No chão, as malas onde farás o esforço heróico de condensar um ano inteiro de roupas, livros (de música, porque com letras não podes tu) e utensílios para o dia-a-dia. E aí estás tu, de malas quase prontas para ir para outro lugar que não conheces mas que vai ser a tua casa por um ano.
Vou ter saudades tuas. Percebi hoje isso, quando olhei para o nosso afilhado a abraçar-te. O puto vai crescer e tu vais apanhá-lo daqui a uns meses com mais uns centímetros de pés e mais uns quilos de energia, e vais dizer no teu ar muito natural: "Ó moço! O que te fizeram para estares assim tão grande?" e depois ele vai dizer "Jãão" e vai correr para ti e vai-te dar um beijinho dos dele.
Acho que a casa vai ficar um bocado vazia, sabes? É que para além de seres grande e de pores sempre a música para ti e para a vizinhança inteira, és uma alma importante nesta casa. Arrisco-me até a dizer que vai ser estranho acordar e não ter de passar duas horas à tua beira a reclamar que tenho frio e que tens de desligar o despertador porque toda a casa está a acordar menos tu, e que tens de te levantar e que tens de te arranjar porque daqui a 10 minutos temos de sair de casa. E esta frase foi grande porque essas duas horas costumam ser bem grandes.
És um irmão chato, como todos os irmãos são chatos e têm de o ser, porque são irmãos. Mas é uma chatisse que já faz parte da minha vida, e não abdico dela.
Hoje olho para o teu quarto repleto de ti e arrisco-me a pensar que amanhã ele vai estar vazio. As fotografias vão lá continuar, e os livros que não lês, e as duas toneladas de cd's que guardas desde que existes, mas a cama não vai estar por fazer, e não vais ter dois quilos de roupa para arrumar na cadeira, e o computador não vai estar ligado e a música da tua flauta não vai lá estar. E arrisco-me a pensar que vou mesmo ter saudades tuas, mas que agora não posso pensar nisso porque ainda estás aqui e porque a Bélgica é já aqui e vai haver voos baratos e no próximo fim-de-semana eu já estou lá. Ou pelo menos é esse o tipo de pensamentos que quero que estejam na minha cabeça.
Espero que corra tudo bem. E aqui não englobo o "espero que aprendas a cozinhar e a lavar roupa e a falar francês e a desenrascares-te sozinho", porque tenho a certeza absoluta que depois de duas ou três asneiras estás profissional. Espero, sim, que gostes muito de viver aí, que vivas a música e que lhe abras um espaço cada vez maior dentro de ti. Espero que conheças pessoas, que te divirtas e que cresças com elas. Espero que tenhas muitas histórias para contar e que este ano seja verdadeiramente inesquecível.
E espero que digas a toda a gente que tens uma irmã que gosta muito de ti e que de certeza que te vai visitar muitas vezes. Ou se não disseres, pelo menos diz-me que pensas assim, e eu já fico contente.
Sabes o que é engraçado pensar? É que quando chegares vais ter guardado para mim um dos teus abraços capazes de me sufocar em três segundos, e eu vou dizer: "Pára, João, não quero morrer hoje", e tu vais-te rir e vais dizer: "Não? Oh, eu queria...".

Quero muito que sejas feliz.

2 comentários:

Ricardo Ascensão disse...

:)

Boa viagem, amigo João!

lilokas* disse...

Dos que se lê, e não se comenta. Basta pensar no que estás a sentir.

Um beijo *