outubro 01, 2010

Dia 1/2: Florença

Chegámos a Florença ao fim da tarde. No nosso caderninho de planeamentos (sim, que a Raquel, para além de ser uma das maníacas das fotografias, é A maníaca dos planos) tínhamos apontado dois possíveis hostéis para ficarmos.

Como quem tem boca vai a Roma, ou neste caso a Florença, fomos perguntando onde era a rua do Locanda Rocco, o hostel mais barato que nos tinha aparecido. Mais barato e… mais assustador também. Mas decidimos ignorar todas as reviews que encontrámos nos vários sites (“Worst hostel of my europe trip”, “This is the worst hostel I have ever stayed in” e coisas do género ), e aventurámo-nos a procurá-lo.

Quando chegámos ao suposto hostel, vimos uma porta com ar abandonado, uma placa a dizer “Locanda Rocco” e um papel colado a dizer para ligar para um número, no caso de querermos fazer Check-in. Achámos estranho, mas à porta estava também um casal inglês, esse com marcação, a tocar insistentemente à campainha. Ninguém respondia.

O casal, que já tinha gasto oito euros com a marcação, estava visivelmente irritado. Ligaram para o tal número de telefone, onde alguém aparentemente mal criado os encaminhava para uma outra rua onde teriam que imprimir não sei o quê para poderem fazer check-in. Nesse momento, percebemos os terríveis comentários que tínhamos encontrado ao hostel, e decidimos procurar outro.

Mais uma vez, tivemos uma sorte danada. Começámos a entrar em hostéis e pensões nessa rua: tudo cheio. Mas à terceira foi de vez, e não precisámos de procurar mais: mesmo no centro de Florença, estava a Pensão Ottaviana, com dois quartos livres a 15 euros por pessoa.


Como somos umas raparigas poupadas, disponibilizámo-nos a ficar num só quarto com três camas, que dividiríamos, mas nem assim o forreta do dono baixou o preço. De qualquer forma, a recepcionista era bem simpática, a pensão acolhedora e o chuveiro maravilhoso (a verdade é que não era nada de especial, mas naquela altura um simples fio de água a cair parecia-nos um verdadeiro milagre).

Não me lembro de me deitar tão cedo. Às dez horas da noite estávamos de banho tomado e a fazer os últimos telefonemas, para garantir que estávamos vivas. Ainda demos uma pequena volta nocturna pelas imediações da pensão: vimos o Rio Arno e as suas pontes, nomeadamente a Ponte Vecchio, que mereceu a nossa atenção. É uma ponte medieval sobre a qual se ergue uma longa fila de ourivesarias e joalharias, seguras ao tabuleiro por ferros aparentemente frágeis. Ficámos fascinadas pelas suas cores e pela própria construção, que parecia facilmente desmoronável. A verdade é que a ponte resiste aos séculos, e enquadra-se perfeitamente na paisagem da cidade.

A noite passou, literalmente, num abrir e fechar de olhos, ou melhor, num fechar e abrir de olhos. Dormi que nem uma pedra! O meu corpo, por esta altura, ainda não se tinha habituado totalmente às poucas horas de sono. Nada que os próximos dias não resolvessem!

Depois de acordar, tomámos o indispensável capuccino – que se tornaria o vício colectivo da semana. Não valia a pena pensar sequer em percorrer as ruas de cada cidade sem a dose de cafeína e leite quentinho no estômago. Acho realmente que a nossa disposição ao longo do dia se media pela qualidade do capuccino da manhã.

No meio daquele maravilhoso pequeno-almoço (completo com um pão comprado no mini-mercado ao lado, e comido clandestinamente para não parecer mal perante os donos do café) e das conversas sobre o nosso bilhete semi-legal, a Mariana brinda-nos com um toque da sua responsabilidade e repara que deixou o bilhete de comboio na Pensão, de onde já tínhamos feito Check-out.

Nada que não conseguíssemos resolver com a nossa grande capacidade de desenrascanso: muito calmamente, acompanhei-a à pensão (visto que o sentido de orientação dela é, se tal é possível, bastante pior do que o meu) e lá estava o bilhete, a descansar na gaveta do quarto. Honestamente, quem é que se lembra de pôr um bilhete de comboio na gaveta de um quarto onde só se vai passar uma noite?!

Continuando. A nossa manhã em Florença foi a típica manhã atarefada de um turista: percorrer as ruas da cidade numa luta contra o tempo, tentando não deixar nada por ver. As costas já se começavam a ressentir com o peso das mochilas, mas mandámos as costas para um sítio que eu cá sei e ignorámos a dor.

Entre igrejas, fontes, “Cultural Information” do meu amado Guia, que uma italiana parva lá o tenha (depois explico isto) e umas boas dezenas de ruas, percorremos toda a parte histórica da cidade em meia dúzia de horas. Esgalgadas de fome e já quase sem aguentar as dores nas costas, parámos finalmente num agradável jardim, cheio de sombras e de pombas (para alegria da Ana), para almoçarmos. Eu não sei se aquelas sandes eram de facto óptimas ou se era da fome, mas o que é certo é que aquele almoço me soube tão bem que comia mais duas ou três. No entanto, a carteira gritava por descanso, e decidi esperar por um belo gelado Olá, ou neste caso Algida.

A tarde começou por uma íngreme subida até à Piazza Michelangelo, para desespero dos diversos músculos do nosso corpo. No entanto, o esforço compensou, porque passado uns minutos estávamos a visualizar uma das paisagens mais bonitas que já tínhamos visto. As maníacas das fotografias, Ana e Raquel, encontraram aí o seu paraíso. Comemos os belos Magnuns, um pouco mais caros do que o costume mas que nos souberam melhor do que o costume. Fizemos o nosso xixi, pelo qual pagámos 60 cêntimos (eu sei que é informação desnecessária, mas não resisti). E devemos ter tirado nesse sítio cerca de um terço das nossas 2747 fotos.

Depois de descansarmos e aproveitarmos a vista, subimos mais um pouco e, mais uma vez, maravilhámo-nos com a paisagem. Mas o que de facto encheu as nossas medidas foi a fonte de água fresca que encontrámos, que ao início parecia uma miragem. Descansadas e hidratadas, voltámos a descer o monte em direcção à Ponte Vecchio, onde conseguimos ainda ver as ourivesarias abertas (ao contrário da noite anterior) e o magnífico pôr-do-sol, que mais uma vez nos encheu as medidas.

A noite foi, mais uma vez, uma aventura. Uma vez que a máquina da Ana estava já sem bateria (quem diria que uma bateria não aguentaria as centenas de fotos que já tínhamos tirado), decidimos jantar no nosso amigo McDonald’s, o único restaurante que conhecemos com tomadas e que não cobra “serviço de mesa” (isto quando tem tomadas, porque já apanhámos umas quantas desilusões).

No entanto, começa já a ser tradição expulsarem-nos do Mac. Depois de pedir o meu quinquagésimo cheeseburguer desde que estou em Itália e de pedirmos com jeitinho a um dos empregados para ficarmos no piso de baixo (único com tomadas, mas que estava já fechado), desci com o meu belo tabuleiro e comecei a degustar aquele sabor totalmente desconhecido. Passado uns minutos, chega o segurança a – wait for it – expulsar-nos de lá.

Ao que parece, podia haver um incêndio e se nós ficássemos lá em baixo a culpa era dele, e ficava sem trabalho. Rapaz cuidadoso, não o posso culpar!

Para o dia acabar em beleza, apanhámos um autocarro até à estação de comboio, e o motorista (finalmente percebemos porque é que lhes chamam autistas) disponibilizou-se de forma muito simpática a avisar-nos quando chegássemos. No entanto, quando achámos que talvez já estivéssemos a andar demais, e no sentido oposto ao que era suposto, fomos só perguntar se ainda faltava muito.

Na verdade, o senhor tinha-se esquecido de nós, e sem qualquer pedido de desculpa aconselhou-nos a sair na próxima paragem e a voltar para trás.

Sem saber o que fazer, obedecemos. E a “próxima paragem” era numa rua sem qualquer luz, um pouco assustadora até, onde o próximo autocarro só passaria dali a 45 minutos. Estava frio e… tchan tchan tchan tchaaan… era meia-noite (Ana, desculpa, não resisti a acabar assim).

5 comentários:

João disse...

O texto é quase maior que o Duomo da catedral de Florença!

Mas tem pelo menos o requinte de ser o primeiro texto sobre Florença que eu leio que não tem a palavra Medici!!

Vitor Hugo Ferreira disse...

continuo a acompanhar com muito interesse ;)

:) :) :) :)




Normalmente qd os hotéis têm muitos reviews maus é de desconfiar ;)


Mais uma vez acho as fotos de Florença espectaculares (ainda esta semana estive a ver umas da minha irmã) e quantas mais vejo mais penso DESTINO OBRIGATÓRIO ;)



Mais uma vez expulsas do Mac???
Qualquer dia nos Macs em vez de aparecer lá no cantinho a foto do "Empregado do mês" aparecem as vossas fotos a dizer "Expulsar" ;)



era meia noite e???? epah, isto tem de acabar!!!


beijo,
Vitor


P.S.- consegue haver alguém com pior sentido de orientação que tu? ;) ;) ;)

Vitor Hugo Ferreira disse...

já ando em pulgas para a continuação... deixa lá de ser preguiçosa e toca a escrever... ;)

beijo

Andreia disse...

aiiii que inveja vossa. :o é com cada aventura mais maravilhosa, ve la se cantas muito aí oh inês :D Fazer publicidade para nos convidarem para irmos ai cantar :DDD ahah

beijinhooos

Vitor Hugo Ferreira disse...

continuo à espera do próximo episódio... :p