Não tenho por hábito comentar notícias, porque habitualmente elas são demasiado chatas para eu me chatear a comentá-las. No entanto, ontem li uma notícia que me revoltou a sério, e como cidadã atenta à realidade nacional sinto-me no dever de denunciar os seus perigos.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Silva, defende a criação de um imposto sobre a fast food e “dezenas de variedades de lixo alimentar”. Ora eu, que tenho algum orgulho na gordurinha que se instalou à volta do meu umbigo e que defendo vorazmente a máxima “gordura é formosura”, sinto necessidade de me fazer ouvir.
Quem é que nunca combinou um jantar com os amigos no McDonald’s ou não sentiu orgulho de ingerir 2200 calorias numa só refeição? Quem é nunca se dirigiu à Euro Poupança às 5 da tarde para lanchar um cheeseburguer? A verdade é que, quer queiramos quer não, todos sabemos o que é dar um arroto bem dado no fim do jantar e pensar: “hoje sim, comi à hóme” (se alguém nunca teve esse prazer, asseguro que vale a pena experimentar).
Ora com a febre da troika e da crise económico-financeira, os “especialistas” andam-se a passar. Mas sugiro que pensemos em conjunto: porquê tirar à população as pequenas doses de felicidade que vão surgindo no seu dia-a-dia?
Tirem-me a luz de casa, o aquecimento no Inverno, a gasolina do carro ou até o pão da manhã, mas por favor não me tirem o Double Cheeseburguer com batatas cheias de sal e a cola de sábado à noite!
Reparem que não altera assim tanto os hábitos alimentares de uma pessoa… os grilos que preferem as saladas aos hambúrgueres são capazes de comer uma salada e passado uma hora vão atacar as bolachas, porque a salada já está em todo o lado menos no sistema digestivo. Já aqueles que, como eu, comem como deve ser, ficam com o hambúrguer entalado no estômago durante pelo menos quatro horas, e depois estão a chá o resto do dia. Vantajoso, não?
Já para não falar que estou constantemente num ginásio gratuito, ora a correr para o autocarro (já não vale a pena confiar nos horários desregulados da STCP), ora a subir as escadas da minha faculdade, já que andar no único elevador que lá existe é mais assustador do que atirarmo-nos de uma ponte para fazer bunding jumping.
Outra novidade muito interessante é que andam a fazer estudos e a aprovar leis para serem retirados os brinquedos dos menus infantis dos restaurantes de fast food. E agora revolto-me não por mim, mas pelas crianças de hoje em dia, que merecem, tal como eu, uma infância feliz (é certo que eu e o meu grupo de amigos fomos capazes de passar um dia inteiro a brincar com uma mini bisnaga que saiu num menu do Burguer King, mas isso agora não é para aqui chamado).
Senhores doutores, peço que reflitam um pouco nisto. Como é que as crianças vão conseguir passar sem os mini bonecos cheios de luzes e sons e super giros que, à medida que vão perdendo as pilhas (2 dias depois), começam a arrotar de uma maneira muito estranha? Como é que elas vão saber que é possível decorarmos um boneco feio com meia dúzia de autocolantes coloridos? Como é que, daqui a uns anos, vamos ter engenheiros, se as nossas crianças não souberem que a caixa do Happy Meal se pode transformar numa casa?
Isto é educação… que adianta saírem novos filmes da Disney e levar as crianças ao cinema se, depois de jantar, elas passam a não ter o seu herói plastificado para levar para casa?
Isto é um problema muito grave que o nosso país enfrenta. Na minha opinião, é um assunto demasiado importante para não se pôr a hipótese de fazer um referendo sobre esta matéria.
Senhores ministros, acreditem em mim, esse bando de senhores doutores só quer poupar trabalho e deixar de lidar com AVC’s. Ouçam antes uma simples cidadã que já tem o cinto tão apertado que daqui a pouco não cabe nem mais uma batata frita cá dentro!
Já que não nos deixam ligar os aquecedores durante o Inverno, deixem-nos ao menos aquecer o estômago em paz!...
Este texto foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico (acho eu).
4 comentários:
Adorei!
Ora bem, se ainda ninguém veio retaliar este teu grito do Hipiranga versão Ronald MacDonals faço-o eu!
O problema não é o MacDonalds existir para os utilizadores semanais de sábado à noite (esses provavelmente nem notam assim taaaaaaaaaanta diferença se pagarem mais um bocadinho)...
Agora, há crianças cujo paladar se habitua totalmente àquilo e depois de crescidos, quando têm que fazer escolhas alimentares saudáveis o cérebro só tem uma coisa lá escrita: HAMBURGER!!
Tudo isto é muito fácil de falar e especular, mas quando começas a ter 3 dígitos na balança és facilmente confundido com uma bomba relógio.
Comam à vontade, com fartura mesmo, mas desde que seja a "nossa comida"! E agora fazendo um apelo meramente nacional, viva o caldo verde e tantas mais coisas deliciosas que temos :)
Anita, só um à parte... eu tenho uma (mínima) noção dos problemas de obesidade infantil no nosso país e concordo plenamente com a medida... foi só para chatear um bocadinho e ser do contra, que é uma cena que gosto de fazer às vezes :)
beijinhoooo
:P
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