Não me seduzem aqueles dias mornos em que acordamos quando a manhã já vai longa, passamos o dia de pijama a fazer tudo e nada e nos deitamos com dores nas costas de tanto tempo que passámos sentados a olhar para o computador ou para a televisão. Ou melhor, seduzem-me só quando não os posso ter.
Gosto de acordar com a “ALVORADA” bem gritada nos meus ouvidos – se bem que no momento me apeteça espancar alguém ou dizer todas as asneiras do mundo. Gosto de ter um objectivo a cumprir, nem que o objectivo seja ir para a praia aborrecer quem quer ter paz e descanso.
É raro não gostar das minhas férias. Aliás, é muito frequente pensar “estas sim, foram as melhores de sempre”. Não sou esquisita – ora no Algarve, ora no monte, ora em sítios mais longínquos, o que importa é a companhia. E essa não me costuma desiludir.
Este ano não foi diferente. Este ano, sou capaz de dizer “estas sim, foram as melhores de sempre” e sei que não estou a mentir. Tal como não estava a mentir em todos os outros anos em que o disse cheia de certeza. Pensando bem, acho que não sou difícil de agradar. E por muito que reclame as caminhadas infindáveis, as alvoradas depois de poucas horas de sono ou as companhias de quarto mais ruins, chego sempre ao fim de coração cheio, a pensar que não poderia ter sido melhor.
Estas férias vi que Ibiza também existe de dia, descobri os perfumes da Tunísia, provei (e aprovei) as vistas e as pizzas Sicilianas, comprovei que Nápoles é uma lixeira bem bonita, apaixonei-me mais um pouco pela minha (nossa) Florença e descobri que a solução para Portugal vencer a crise é assaltar o casino do Mónaco. Mais do que isso, deliciei-me com a minha família (re)unida – das melhores dádivas que a vida me deu – e com a generosidade dos meus avós, que abriram a bolsa (e o coração) para ver felizes aqueles que amam. Como se não fôssemos já felizes só por nos amarem.
Cheguei cansadíssima do cruzeiro – obviamente. Por isso, fui “descansar” com os meus missionários preferidos para a Serra da Freita. “Descansar”. Respirámos o ar da Natureza, levamos uma coça dela (digamos que nos decidiu brindar com água fresca e cristalina durante umas horas valentes), caminhámos, dançámos como dançam portugueses a sério, vimos a beleza do nascer do sol atrás das montanhas frias e sentimos o seu calor. Sentimo-nos vivos.
Cheguei cansadíssima de novo – outra coisa não seria de esperar. Por isso, depois de uns dias ao lado da família que incluíram uma escapadela até Castelo de Paiva, parti rumo ao Algarve: o ex-líbris das férias tugas.
Mas desengane-se quem acha que o Algarve é bom para descansar. Pelo menos tenho a certeza que não o acharam aqueles que, por azar, escolheram a praia da Galé para apanhar banhos de raios ultra-violetas e “relaxar”. Eu cá ficaria tudo menos relaxada se um grupo de grunhos entrasse pela praia dentro a cantar coisas estúpidas e a gritar que tinha acabado o meu descanso. Mas se calhar sou eu que sou anormal!
Para a Galé… não há palavras. Em dez dias, aquilo que à primeira vista parecia só um apartamento simpático transformou-se num autêntico “Bairro do Amor”, onde tudo é partilhado sem complicações – tudo… tudo. Como se em dez dias fosse possível construir uma amizade bem sólida. Bem, a vida pega-nos algumas partidas. E eu diria que em dez dias construímos uns alicerces praticamente indestrutíveis.
(In)felizmente, muita coisa é finita. As brincadeiras, as aventuras transformam-se em simples memórias de Verão para recordarmos quando estivermos atulhados de trabalho e percebermos que há vida para além dos problemas. Mas há muita coisa que fica – os olhares cúmplices, os ombros amigos que nos conhecem as entranhas – literalmente. E isso sim, permanece.
Poderia dissertar aqui uma eternidade sobre cada uma destas brincadeiras, desde as Passaronas e o Tubarão à Bia Berde e ao (in)esquecível “Hugo, olha o ritmo!”. Poderia introduzir as conversas mal cheirosas, os vizinhos simpáticos, os percalços estomacais e os crepes às três da manhã. Mas ninguém iria perceber – pelo menos não tão bem como nós percebemos.
Fico-me por estas borboletas no estômago, que não são sinal de paixão mas de relutância por saber que tudo acabou – e que amanhã, às 8 da manhã, recomeça a rotina de sempre. Aquela que não me custou nada deixar e a que vai custar (e bem) regressar.
Ficam as memórias, e a esperança de, durante o ano, ir tendo umas migalhas do que vivi nestas férias – as mais cansativas e, seguramente, “as melhores da minha vida”.
4 comentários:
(coração)! A Galé foi deveras fantástico e efectivamente (LOL) criamos laços que espero manter durante muito MUITO tempo! Gosto muito de nós como família Ramos e em particular, um bocadinho de ti. (coração)!
Inês,
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Eliane Lima
Não poderia deixar de comentar este fantástico testemunho que, confesso, me deixou uma lagrimazita no canto do olho =') Galé foi.... foi.... olha nem sei... não consigo classificar!! Famíia Ramos ao poder =D e tenho dito!! As melhores férias de sempre******
Vocês são mesmo panisgas! Não gosto nada!
Coração, asterisco!
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