Sempre achei o jornalismo uma
área muito interessante. Interessante não como um livro ou uma exposição que vemos
e gostamos, interessante porque me despertava interesse como nenhuma outra
profissão despertava. Reunia tudo aquilo que me apaixona: a aventura, a
curiosidade, a constante fuga da rotina.
Contra a vontade dos meus pais,
mas sempre incondicionalmente apoiada por eles, inscrevi-me no curso de
Ciências da Comunicação. O curso foi um confirmar do tal “interesse”, que rapidamente
cresceu, ao ponto de se tornar uma paixão. A cada trabalho que fazia, tinha
mais a certeza de que era aquilo que queria para mim.
Passou rápido – três anos, com
seis meses de Erasmus pelo meio, passam a voar. E daqui a uns dias vou poder
gritar aos sete ventos que sou jornalista.
É isso que me resta – gritar. Fiz
o meu estágio no Jornal de Notícias, e foi uma experiência que certamente me
marcará para o resto da vida. Entrei nas “rotinas” (na verdade muito pouco
rotineiras) de um dos maiores jornais do país, e a maior parte das vezes não me
dava conta que estava a trabalhar.
Fiz turnos da manhã, da tarde,
muitas vezes da manhã e da tarde, algumas vezes estive na redação até de
madrugada, de olhos colados no computador. Trabalhei em feriados, em
fins-de-semana. E surpreendentemente, o cansaço não me assaltou. As dores nas
costas e o cansaço físico, confesso, assaltaram-me uma dúzia de vezes. Mas o
entusiasmo só aumentava, sempre que via um trabalho meu publicado.
O espírito vivido na redação
ajudou, sem dúvida. Os meus “superiores” rapidamente se tornaram “colegas”,
sempre preocupados em ajudar-nos a crescer enquanto jornalistas. Posso dizer que
nunca pensei, durante o estágio, construir relações de amizade com os meus
colegas, mas acho que posso afirmar que o fiz.
Tenho plena consciência, pelos
feedbacks que fui recebendo, que fizemos um bom trabalho – eu e as outras
estagiárias. “Se fosse noutra altura…”
Atualmente ninguém tem margem
para contratar ninguém. “Se fosse noutra altura”, seria diferente. Mas a minha
altura é esta que vivemos. Quando, depois de amanhã, entregar o meu relatório
de estágio, concluo a minha licenciatura (supondo, cheia de auto-confiança, que
não hei-de reprovar). E aí, resta-me gritar aos sete ventos que sou jornalista.
Já pensei, muitas vezes, ir
gritar por ventos internacionais e descobrir o meu lugar no mundo. Também já
pensei ficar por cá, inundar-me com mais formação (nunca se está
suficientemente preparado para ser jornalista) e ficar à espera de uma “altura”
melhor, em que hei-de fazer o que gosto sem ser por carolice.
Não sei o que se segue. Sei, sim,
que não hei-de ficar parada. Que a crise só pára quem não quer andar, e não
hei-de ficar sentada no sofá, canudo na mão, à espera que a minha oportunidade
chegue.
Preparem os vossos ouvidos,
porque quando quero sei gritar muito alto.
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