junho 20, 2012

Preparem os vossos ouvidos

Se no meu relatório de estágio pudesse escrever na primeira pessoa, se não fosse um trabalho demasiado “académico” para poder contar a minha história, ele começaria assim:

Sempre achei o jornalismo uma área muito interessante. Interessante não como um livro ou uma exposição que vemos e gostamos, interessante porque me despertava interesse como nenhuma outra profissão despertava. Reunia tudo aquilo que me apaixona: a aventura, a curiosidade, a constante fuga da rotina.

Contra a vontade dos meus pais, mas sempre incondicionalmente apoiada por eles, inscrevi-me no curso de Ciências da Comunicação. O curso foi um confirmar do tal “interesse”, que rapidamente cresceu, ao ponto de se tornar uma paixão. A cada trabalho que fazia, tinha mais a certeza de que era aquilo que queria para mim.

Passou rápido – três anos, com seis meses de Erasmus pelo meio, passam a voar. E daqui a uns dias vou poder gritar aos sete ventos que sou jornalista.

É isso que me resta – gritar. Fiz o meu estágio no Jornal de Notícias, e foi uma experiência que certamente me marcará para o resto da vida. Entrei nas “rotinas” (na verdade muito pouco rotineiras) de um dos maiores jornais do país, e a maior parte das vezes não me dava conta que estava a trabalhar.

Fiz turnos da manhã, da tarde, muitas vezes da manhã e da tarde, algumas vezes estive na redação até de madrugada, de olhos colados no computador. Trabalhei em feriados, em fins-de-semana. E surpreendentemente, o cansaço não me assaltou. As dores nas costas e o cansaço físico, confesso, assaltaram-me uma dúzia de vezes. Mas o entusiasmo só aumentava, sempre que via um trabalho meu publicado.

O espírito vivido na redação ajudou, sem dúvida. Os meus “superiores” rapidamente se tornaram “colegas”, sempre preocupados em ajudar-nos a crescer enquanto jornalistas. Posso dizer que nunca pensei, durante o estágio, construir relações de amizade com os meus colegas, mas acho que posso afirmar que o fiz.
Tenho plena consciência, pelos feedbacks que fui recebendo, que fizemos um bom trabalho – eu e as outras estagiárias. “Se fosse noutra altura…”

Atualmente ninguém tem margem para contratar ninguém. “Se fosse noutra altura”, seria diferente. Mas a minha altura é esta que vivemos. Quando, depois de amanhã, entregar o meu relatório de estágio, concluo a minha licenciatura (supondo, cheia de auto-confiança, que não hei-de reprovar). E aí, resta-me gritar aos sete ventos que sou jornalista.

Já pensei, muitas vezes, ir gritar por ventos internacionais e descobrir o meu lugar no mundo. Também já pensei ficar por cá, inundar-me com mais formação (nunca se está suficientemente preparado para ser jornalista) e ficar à espera de uma “altura” melhor, em que hei-de fazer o que gosto sem ser por carolice.

Não sei o que se segue. Sei, sim, que não hei-de ficar parada. Que a crise só pára quem não quer andar, e não hei-de ficar sentada no sofá, canudo na mão, à espera que a minha oportunidade chegue.

Preparem os vossos ouvidos, porque quando quero sei gritar muito alto.

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