julho 10, 2012

Mas

Já estava no caminho certo, rumo a objetivos traçados a regra e esquadro. Rumo a uma terra que perfeita não será - muito longe disso - mas que me arrancará (espero) as camadas de egoísmo, conformismo e comodismo que construí sobre mim mesma.
Fiz as pazes com o passado, olhei-o olhos nos olhos e parti rumo ao futuro. Os astros estavam-se a alinhar para mim, se é que os astros se incomodam a alinhar-se para alguém.
Mas.
Mas todos percebem, todos lembram e dão razão à dor que o coração teima em bombear cá dentro. "Como estás?", com aqueles olhos de "não estás lá grande coisa". Todos se lembram que não. "Tens razão". "Há-de perceber". "Há-de crescer". "Há-de."
Todos percebem, incluindo a pessoa que serás no futuro. Também tu hás-de perceber. "Um dia".
Mas agora estás ocupado a brincar aos adultos.
Ser adulto à machadada é um erro muito grande. Crescer à força não funciona. Isso não torna ninguém adulto - quanto mais não seja, torna-nos mais brutos e faz-nos esquecer o sabor de ser criança.
Hás-de perceber que um adulto tem que ter olhar de criança. Para ser feliz, tem de saber espantar-se. Um adulto não tem de ser sabichão e esquecer que o sol é amarelo, que a é relva verde e que os pássaros são capazes de cantar. 
Mas as crianças amadurecem, e passam do "este brinquedo é meu" para o "este brinquedo existe para mim". Passam da noção de posse para a noção de liberdade. Passam a ser capazes de desfrutar daquilo que se limita a existir, sem nenhuma necessidade de pertencer a ninguém.
Hás-de sentir essa liberdade plena de não pertencer a ninguém mas de existir simplesmente, e hás-de saber desfrutar dela. E aí, hás-de perceber que todas as liberdades se podem partilhar - e que, por se partilharem, não deixam de ser livres.
Aí, hás-de perceber o que é ser adulto - não o "adulto" chato e cinzento de quem todas as crianças desdenham, mas o adulto que elas vêem como companheiro. O adulto que, por perceber o tamanho da sua pequenez, está no mundo sem se preocupar em agarrar tudo e todos. Que se limita a existir e a cuidar daqueles com quem tem oportunidade de partilhar a existência.
E vais também perceber que tens um "eu" que também tem direito de existir. Que não tem que ser anulado por ninguém, porque ninguém tem o direito de existir mais do que tu.
Enquanto isso, vou aprendendo a ser o parêntesis que já te encarregaste de fechar. E vou aprendendo a deixar ir - também é uma prova difícil, mas se crescer com ela já tenho mais uma coisa a agradecer-te.

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