janeiro 01, 2014

Mais ano, mais um balanço

No fim do ano, gosto muito de fazer balanços. Não tanto os da balança, que pesa o que foi bom ou mau e dá um resultado, um peso, um número, mas os que me fazem "tomar balanço" para começar de novo. É aquele caminhar que deita sempre um olho ao passado e procura aprender com ele.

Ainda que os meus olhos implorem por se fecharem, ainda que tenha estado todo o dia a ansiar por este momento em que estaria debaixo dos cobertores de novo, ainda que a loiça esteja por lavar e a roupa se amontoe em cada canto desta pequena casa, não consigo começar o ano sem este "tomar balanço" a que me habituei.

2013 foi o ano em que tive que crescer. Deixar as saias da mãe, o conforto dos amigos, o abraço da família e construir sozinha uma nova etapa. Foi altura de não me conformar com a crise e o desemprego e de construir a minha própria história, fosse onde fosse. 

Foi tempo de escolher. Ir conquistar o mundo por minha conta e risco ou aventurar-me na área que escolhi estudar, no meu país, e ver como me safava em campo. Não faço ideia se escolhi certo ou errado. Optei por "ir para fora cá dentro" e por descobrir o que era isso de ser jornalista.

Descobri o significado da "desertificação" que lia nos livros de Geografia. Conheci uma cidade nova, pouco movimentada, com temperaturas extremas e paisagens magníficas. Percebi o que é isso de viver no Interior e poder chegar em cinco minutos onde quer que seja, experimentei conduzir estradas vazias e desfrutar de recantos lindíssimos, que estavam lá só para nós. Também percebi o que é não ser nada sem um carro, ter que escolher entre a mesma meia dúzia de lugares para ir e ver sempre as mesmas pessoas nas mesmas ruas.

Comecei a aventura do jornalismo numa cave, com gente sempre mal disposta a tentar (des)ensinar-me. Tudo se passava ao contrário do que lera nos livros e ouvira dos professores na faculdade. Lidei com a mesquinhez de quem julga que o mundo gira à volta do seu umbigo e de quem põe o dinheiro acima de qualquer outra coisa. Descobri que, mais do que a busca da verdade, o jornalismo é tantas vezes um instrumento ao serviço dos interesses de uns poucos, e que nós temos duas hipóteses: ou nos chateamos e largamos tudo, ou fingimos que não percebemos e vamos engolindo pequenos sapos. Com alguma sorte e muita paixão, os sapos vão sendo compensados com os momentos em que percebemos que fomos úteis para alguém, e aí tudo se torna mais fácil.

Dei de caras com a falsidade, a ganância, o uso e abuso de poder em proveito próprio. Tudo isto, é claro, vindo de gente de boas famílias e bons costumes. Deparei-me com gente que punha acima de tudo o seu próprio benefício, não pensando nem por um segundo se esse benefício prejudicaria o outro.

Percebi o que é isso de "mercado" de trabalho no sentido mais profundo da palavra. E não gostei do que vi.

A par das bofetadas, trouxe também boas recordações, poucos mas bons amigos e sobretudo uma grande companheira, com quem aprendi muito e abri muitos horizontes. Apesar de tanta coisa ter corrido mal, houve alguns momentos em que pensei "é isto que quero fazer para o resto da minha vida". E só por esses momentos, pequenos mas cheios de sabor, já valeu a pena. 

2013 foi também tempo de agarrar novas oportunidades com unhas e dentes. Ser surpreendida com uma proposta que não procurei e que me baralhou os planos todos. Como todas as grandes oportunidades, claro. Mais escolhas. Escolher mal à primeira e, ainda assim, conseguir corrigir o erro a tempo. Um mês inteiro de espera e de esperança.

Pelo meio, quatro dias de liberdade. Peguei no carro e na amiga do coração e fui cumprir mais um sonho. Este, em ponto pequenino, alimentou o desejo de o aumentar, de fazer algo maior. Viajar sem destino. Uma ideia tão simples e que ao mesmo tempo preenche tanto. Acordar sem fazer ideia de onde iremos dormir. Ver uma paisagem ser horas contadas para ir para onde quer que seja. E desfrutar. Tão simples quanto isso.

Depois, nova aventura. Colocar o Interior na gaveta das recordações e viajar para a capital, para a rainha das cidades movimentadas. Viver no lugar que cabe em tantas letras de canções e em tantas vidas diferentes. Descobrir o jornalismo sério num lugar a sério, onde não se brinca às televisões, às rádios ou aos jornais. Onde tudo vale, tudo tem visibilidade e onde a responsabilidade aumenta. Aprender a viver sozinha sem ser só, lidar com a ausência e sentir as pessoas presentes na distância. Fazer amigos novos, conhecer lugares novos, aprofundar amizades paradas no tempo. Ir percebendo, na mudança das rotinas, quem é que permanece sempre e há-de permanecer toda a vida.

Brindar ao novo ano com um grupo cheio de ilustres desconhecidos, e mesmo assim estar feliz com isso, porque ser livre também é aceitar a imprevisibilidade da vida e aproveitá-la. Começar o novo ano a trabalhar e a desejar deitar o fígado ao lixo, não por ter cometido muitos excessos mas porque a imprevisibilidade da vida às vezes também dá para o torto.

E começar 2014 assim, completamente exausta, por ter festejado à grande e ter trabalhado arduamente naquilo que mais me preenche. No mínimo, um indício de que este vai ser mais um grande ano!

Um comentário:

mila disse...

Vai ser um grande ano sim.Mesmo muito nice!:) Força!!!