fevereiro 23, 2009

Carnaval

Acordava sempre de madrugada nesses dias. Não era capaz de ficar na cama, a excitação não o deixava. A noite anterior era um problema para adormecer, porque ficava horas a sonhar, a fantasiar o dia seguinte na minha cabecinha de criança.
Ouvia sempre um “Já a pé? Ainda é tão cedo!”. Não queria saber. Ainda havia muito a arranjar, muitas voltas em frente ao espelho a dar e muitas fotografias a tirar.
A roupa era preparada com antecedência, na maior parte das vezes era algo muito original. Telefones, blocos de notas, Pais Natais fora da época, roupas feitas em jornal… a minha mãe esmerava-se sempre. E eu adorava chegar à escola e surpreender com uma fantasia diferente de todas as outras!
O dia era repleto de correrias e brincadeiras. Serpentinas pelo ar, desfiles pelas ruas de Gueifães, jogos que só nós conhecíamos. Cowboys com avançadas pistolas perseguiam Zorros e Power Rangers, fadas madrinhas lançavam feitiços a princesas e a índias. Palhaços faziam rir Robins dos Bosques e Super Homens alcançavam os seus bandidos.
À hora de almoço ficava sempre indecisa entre a cantina, com o resto da criançada, ou a casa do avô, para mostrar aos adultos a minha maravilhosa indumentária. A maioria das vezes era a segunda hipótese a que se concretizava.
O meu avô levava todos os anos aquela máscara de palhaço quando nos ia buscar. Era ver os miúdos todos à volta dele! O avô da Inês, da Rita, do Pedro e do João era o mais “fixe” de todos!
À tarde era a hora das fotografias. Íamos para o jardim e era fotografia individual para aqui, fotografia de grupo para ali. Para ficar para a posteridade. Ainda aqui tenho em casa umas relíquias dessas!
E assim se passava mais um Carnaval. Aliás, o feriado do Carnaval era passado com a família, e normalmente era também muito divertido. Mas aquelas sextas-feiras antes das “mini-férias”… eram mágicas.
À medida que os anos passam a magia vai-se perdendo. Acho que é normal… o Carnaval para mim já não tem o mesmo significado! Ficam estas memórias deliciosas.
Mas às vezes tenho pena. Tenho pena de não ficar sempre criança, no mundo do sonho e da fantasia. No mundo das cores, das correrias… no mundo do Carnaval.
Pareço uma velha a falar. Bem, já que as fantasias e as serpentinas já não me dizem tanto, deixo-vos a vocês, pessoas mais velhas que eu, já com filhos e talvez com netos, um conselho: façam as vossas crianças viver um Carnaval “à maneira”! Mostrem-lhes a magia e a alegria desta época! Para que daqui a uns anos recordem com um sorriso nos lábios os “pais esmerados”, os “avós fixes” e as serpentinas pelo ar…

Texto escrito por mim para o Jornal Vitae, em Fevereiro de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

"À medida que os anos passam a magia vai-se perdendo. Acho que é normal… o Carnaval para mim já não tem o mesmo significado! Ficam estas memórias deliciosas.
Mas às vezes tenho pena. Tenho pena de não ficar sempre criança, no mundo do sonho e da fantasia. No mundo das cores, das correrias… no mundo do Carnaval."

Eu não diria melhor.

Agora, olhando para trás, tenho pena de não ter vivido os carnavais com ainda mais intensidade...
É que supostamente, e pelo que vejo, este tipo de brincadeiras, com a chegada da adolescência e da idade adulta são substituídas pela noite, discoteca e directas... E como não sou nada disso, é uma data completamente banal...

E, acho que vou querer todos os exemplares do jornal para ter o prazer de ler estas coisinhas ! :D