setembro 10, 2009

Mais uma (história)



Hoje o meu dia foi um dia de criança.
Fui ao Aquaparque, que é uma coisa com escorregas e piscinas e água que nos faz escorregar nos escorregas e cair nas piscinas.
Quando eu era pequenina, adorava parques aquáticos. Quando a família ia de férias, já sabia: um dia estava reservado para o parque aquático, ou haveria choro e ranger de dentes. Eu gostava de ver, ainda da auto-estrada, os grandes escorregas azuis e vermelhos que davam voltas e mais voltas e cujo fim não se via. Enquanto os pais pagavam o dinheirão que, frisavam, iam gastar num só dia, eu e os outros miúdos já sonhávamos com os desenhos no ar que faríamos com os nossos corpos leves e com a água que nos faria deslizar pelo tubo colorido.
Passávamos a manhã nisto: cima, baixo, baixo, cima, sobe escada, escorrega assim, sobe escada, escorrega assado. “Já foste àquele?” “Não, tenho medo! É escuro lá dentro!”. E assim que dizíamos isto, íamos para o escorrega escuro.
O pior eram as filas. Época alta, gente a mais, perdíamos muito tempo a chegar ao quadradinho onde encaixávamos o rabo para nos lançarmos tubo fora. Mas quando chegávamos, dávamos ainda mais valor.
Almoçávamos uns hambúrgueres com muitos molhos e uma coca-cola gelada, que era dia especial. O pior era fazer horas para voltar à água. Não há nada que se possa fazer num parque aquático a não ser estar na água. Aí, os minutos que o relógio marcava demoravam a passar. Mas quando chegava a altura do “vá, já podem ir outra vez”, desaparecíamos em menos de dois segundos.
A tarde era igualzinha à manhã. Sem tirar nem pôr. Escorrega azul, escorrega amarelo, aquele escuro que é tão-assustador-e-ao-mesmo-tempo-tão-fixe. “Este é mesmo rápido, aquele tem tantas curvas, este é tão inclinado, aquele aleija as costas, não andes que fazes ferida”. E íamos na mesma e ficávamos com as costas cheias de marcas de parafusos. Mas as marcas da guerra que é nossa não doem tanto.
Chegávamos ao hotel ou apartamento ou qualquer coisa que houvesse no Algarve com camas e chão e enfiávamo-nos nos lençóis com a sensação de que tínhamos levado uma tareia de todo o tamanho. Nessas alturas, eu pegava no meu livro dos Cinco e lia mais um ou dois ou três capítulos. Até as palavras se confundirem com os sonhos, onde abundavam aventuras e copos de laranjada (nas aventuras dos Cinco há sempre uma merenda com laranjada!). E no meio das aventuras chegava a mãe, que tirava com cuidado o livro do colo e dava um beijo na testa, com o “Boa noite” nos lábios.
Hoje, no meio dos lençóis, parece outra vez que levei uma tareia de todo o tamanho. Por isso, fecho o livro de código e sonho com sinais de trânsito e exames.

A vida passa e muda. Paciência, Inês, paciência!

Um comentário:

lilokas* disse...

Oooh, que querida.
Passa e muda, mas é a vida de cada um. E tudo que fica foi construído por si, para mais tarde recordar...

Um beijo *