Ando à procura de quem sou sem ti. Acerto o relógio e olho para a agenda, e tento jogar o tempo a meu favor. Sempre me disseste que fazia coisas a mais, e que não dedicava tempo suficiente às pessoas. Tinhas razão, sempre o soube. Mas é mais forte do que eu – não sei ser sem ter que travar umas quantas batalhas ao mesmo tempo. Acho que é também para me provar que consigo ser eu sem estares cá. Assim não há tempo para pensar ou para arrependimentos. Trago a Razão comigo, com uma trela, para o coração não falar mais alto. Olho uma e outra vez o telemóvel. Não consigo pegar nele. “É melhor assim”.
Sempre quiseste saber de mim. Invariavelmente, fizesse eu o que fizesse ou dissesse o que dissesse, estavas lá para ouvir as minhas histórias. Agora engulo as histórias todas – das mais pequenas, como aquela da camisola amarela, às maiores. Um dia hei-de as partilhar, se algum dia houver alguém a saber ouvir tão bem como tu. Tenho saudades da nossa amizade, e dava tudo para voltar à altura em que trazer-te no bolso bastava. O resto logo se via.
Complicámos tudo, exigimos tudo, até à exaustão. Agora olho para o meu bolso rasgado, vazio, e sinto um aperto que não sei explicar. Sinto as minhas asas presas por correntes. Não voo, e sinto que as pernas andam em piloto automático.
Ando à procura de quem sou sem ti. Neste momento, não sou nada. Debato-me com força para quebrar as correntes e encontrar o meu céu. Ninguém disse que ia ser fácil.
3 comentários:
Estou aqui.
Muito bonito...
OBRIGADA* Inês...
Qual camisola amarela?
Postar um comentário