Uma nova paixão

Apaixonante: acho que posso descrever assim o trabalho que escolhi para a minha vida.

Sempre quis trabalhar num jornal. Ou melhor, sempre desde que descobri que quero ser jornalista. Para mim, a magia do jornalismo era andar sempre com um bloquinho atrás e conseguir pôr no papel aquilo que os olhos viam, os ouvidos ouviam e o coração sentia. A busca constante pela verdade, um jornalismo quase detective, com uma função marcadamente social.

Felizmente, dois anos de curso abriram-me horizontes. Não que tenha deixado de sonhar com tudo isso. Sonhar nunca é erro, e não acredito que jornalismo verdadeiro seja utopia. Mas quando contactei com outras realidades, percebi que jornalismo não se resume ao bloquinho e aos textos impressos nos jornais. Que há um mundo de possibilidades para além disso, e que para serem bons meios só temos que os usar bem.

Descobri a televisão. E “apanhei” o fascínio do audiovisual. É engraçado como sempre disse que queria tudo menos televisão, e ultimamente é aquilo que mais me entusiasma. Afinal, nada é definitivo e estamos sempre a encontrar novas paixões!

Não que tenha um à-vontade tremendo em frente às câmaras… tudo menos isso. Gosto do outro lado, da parte que não se vê, do conseguir contar uma história através de imagens. Falando com as palavras correctas, de manipular imagem. Nunca pensei que alguma vez fosse ficar apaixonada por manipulações, mas é a mais pura das verdades. E daqui poderíamos ter discussões infindáveis: afinal, isso é ético? Manipular uma fotografia, decidir uma sequência de vídeos conforme aquilo que queremos transmitir, é correcto? E se forem imagens que não têm nada a ver com a nossa mensagem? Se “parecer” que têm, podemos usar?

Sempre imaginei que a redacção das televisões fosse um reboliço, com gente aos berros e a correr de um lado para o outro… enganei-me. Pelo menos, enganei-me em relação àquela em que estou a trabalhar, a do Canal180 (apesar de saber que não é uma televisão dita “normal”). Falta-lhe o reboliço da reportagem, é verdade. Não há câmaras, os jornalistas não saem para filmar um acontecimento qualquer, não há directos.

Ali é tudo calmo, tranquilo. Fazem-se muitos telefonemas, mandam-se e-mails. Fazem-se downloads e editam-se peças com aquilo que já existe. É um canal “agregador de conteúdos”. Mas o mais interessante é que dá personalidade aos conteúdos que chegam em bruto, pelo correio ou pela Internet. Dão-lhes a identidade do canal, que se vai tornando cada vez mais vincada.

Ali, toda a gente está concentrada no seu computador. Às vezes, ouve-se falar em voz baixa: “Rita, já acabei esta peça. Podes corrigir?”; “Inês, pus dois vídeos no canal do Youtube. Estás muito ocupada ou podes fazer a descrição?”; “A edição vai no bom caminho, mas está muito igual, falta-lhe algum ritmo”; “E se experimentássemos uma batida mais electrónica?”.

Calmamente, com alguma troca de ideias e experiências, as peças do Magazine, programa em que mais se investe, vão ficando prontas. Sempre sem facilitar a qualidade da edição, o elemento mais visível da qualidade do canal.

Aposta-se na cultura, na arte, na criatividade. Algo que já fazia falta em Portugal, e que agora faz falta divulgar. Um canal que agrega a produção artística de qualidade que se faz no nosso país e lá fora. Um projecto com pernas para andar!

De há uns dias para cá, tenho constatado que não podia ter escolhido melhor área. Que me realiza, ao ponto de os dias voarem e de nem me aperceber que estou a trabalhar. Cansa, sim. Mas já diz o outro que “Quem corre por gosto não cansa”, e posso dizer que tenho a felicidade de gostar do que faço, e gostar ainda mais de aprender, de experimentar coisas diferentes.

O país está mau, não é fácil arranjar emprego. Mas para carolas que vão fazendo uns estágios não-remunerados, a vida é bem cor-de-rosa. O segredo está em arriscar, em vez de ficar em casa à espera que caia algo do céu. E depois sim, aproveitar as férias, com sensação de ter feito as escolhas certas… na hora certa.