dezembro 31, 2010

Ano (verdadeiramente) Novo

Madrid, 30 de Dezembro de 2010

“Meu Deus, como o tempo morre mesmo antes de nascer…”

Entre dois mundos. É assim que me sinto, aqui sentada nesta fila de cadeiras cinzentas e azuis de aeroporto. De música nos ouvidos e caneta na mão, vou-me apercebendo do movimento à minha volta. Pessoas apressadas, à procura da porta que as levará a um país quem sabe longínquo. Pessoas de todas as raças, uma diversidade enorme de origens. Talvez logo à noite estarão do outro lado do mundo, na outra ponta da Europa, no país mais vizinho. E não me sinto parte delas, deste vai e vem apressado que assumiram como seu.

Hoje, sinto-me entre dois mundos. É como se este não existisse verdadeiramente, como se fosse uma cidade imaginária onde me despeço do primeiro mundo , mentalizando-me que o segundo está prestes a voltar.

Ainda sinto os cheiros de casa, da família, dos amigos. Ainda sinto o cheiro do Natal entranhado na roupa. Sei que daqui a umas horas vou mudar de ideias, mas agora parece-me absurdo não ir passar o Ano Novo em casa, com o som da Filarmónica de Viena a entrar-me pelo quarto e com o arroz de picado do meu pai à minha espera. Parece-me absurdo não gritar “Feliz Ano Novo” em coro com a minha família, de taças de champanhe em punho e serpentinas pelo ar. Não dançar naquela discoteca improvisada em que se transforma todos os anos a casa do meu avô. Não ouvir um “Oh, já vais?” do meu pai quando, depois da meia-noite, anuncio que vou ter com os meus amigos. Tudo me parece não encaixar nos esquemas… eu que já me estava a habituar aos esquemas.

E penso no mundo que me espera, que há cerca de 15 dias deixei em stand-by. Não sou pessoa de sofrer muito com saudades. Tento aproveitar o mais possível dos momentos, contextos e pessoas que me aparecem e não penso demasiado se estaria ou não melhor noutro lugar.

Mas tenho a certeza absoluta que, quando entrar naquele portão com uma fila enorme de motas à frente vou sentir que finalmente estou num mundo meu. Na minha segunda casa, com a minha segunda família. Que deixei de estar numa cidade que não existe verdadeiramente – pelo menos na minha vida – para passar para um lugar que conta muitas histórias sobre mim.

Deixei muita coisa que me faz feliz para trás, é verdade. Aquele cheiro a casa sabe a conforto, a aconchego, a porto seguro. Aquelas pessoas fazem aquilo que sou. Mas parto à descoberta, e só Deus sabe como isso me realiza.

Este ano, uma experiência nova. Uma entrada no novo ano fora de casa. Mais uma para juntar à lista de descobertas que 2010 me proporcionou.

E estou feliz por sentir que não estou parada, acomodada nos portos seguros que não fazem arriscar. Estou feliz porque por muito que o turbilhão de vivências me mude – e sinto o coração agitado, à procura do seu verdadeiro lugar – tenho a certeza que dei o meu melhor para continuar original, livre, eu mesma.

Um 2o11 Mesmo Muito Nice para toda a gente!

6 comentários:

Vitor Hugo Ferreira disse...

Um 2011 Mesmo Muita Nice também para ti...


Como te percebo... deixar algumas certezas que nos fazem felizes nem sempre é fácil, mas muitas vezes encontramos outras... basta procurar!!!

Que 2011 te traga tudo o que desejas... haverá sempre por aí alguém prontinho para ajudar e te apoiar...

Beijo,
Vitor

Lilas disse...

coração para ti ♥

Sol da manhã disse...

Um 2011 mesmo MUITO MUITO nice para ti :)!

Hannah disse...

Como não tiveste prazer de apreciar, aqui cai um cheiro:
http://www.youtube.com/watch?v=Sf365fiF8Z4

Que a famosa valsa de Strauss traga um ano que vá rodopiando ao sabor da música.
E que também o dances connosco!
BOM ANO :)

Anônimo disse...

Como eu sou um pouco saudosista, mas também acredito que a "Tradição Já não éo que era"!!! apenas quero que saibas com certeza que fizeste e fazes muita falta!
Um beijo enorme de todos nós e que o ano de 2011 seja para ti tão bom(ou ainda melhor!)quanto o de 2010.
Beijos da tiazinha.

Ricardo Ascensão disse...

Gosto de ti :)